terça-feira, 1 de setembro de 2009

MIRACEMA E SUA GENTE

Ata da sessão extraordinária realizada em 25 de fevereiro de 1953 na sede social da Confederação Brasileira das Escolas de Samba. Presentes as seguintes pessoas:... Joaquim Casemiro, presidente da C.B.E.S.... O Sr. Casemiro, iniciando seu discurso, disse que foi com o maior prazer que recebeu o oficio dirigido pelo companheiro Alcides para esta reunião, cuja finalidade era o seu maior desejo e visto que já no ano passado fizeram esta tentativa e nada conseguiram. Depois que recebeu em suas mãos o convite de seu companheiro, reuniu imediatamente sua massa, deram rápida deliberação e aqui voltou e voltaria quantas vezes fosse preciso para realizar esta fusão e trazer oficialmente todo o apoio da E. S. Unidos do Salgueiro.

Joaquim Casemiro
2/11/1908 - 28/8/1964

Nascido no dia 2 de novembro de 1908, na cidade de Miracema, interior do estado do Rio de Janeiro, Joaquim Casemiro chegou ao Morro do Salgueiro em 1932. Comunicativo, sorridente, logo recebeu o apelido que viraria um verdadeiro nome de toda sua família: Calça Larga. O apelido veio de seus quase dois metros de altura, de seus 130 quilos, e da calça que usava, com a boca que cobria os sapatos.

Figura dominante, não apenas pelo físico, mas também pelo conhecimento político e por sua liderança, Calça Larga logo se tornou uma das personalidades mais representativas da comunidade que começava a povoar o Morro do Salgueiro, onde chegou a ser presidente da Associação Pró-Melhoramentos. Amigo de infância do Governador Carlos Lacerda, Calça Larga freqüentava o Palácio da Guanabara para conseguir algumas melhorias fundamentais para a vida de sua gente, entre elas a canalização da água.

Festeiro por natureza, Calça Larga estava sempre à frente nas homenagens ao padroeiro São Sebastião e na organização do piquenique no dia 15 de novembro, quando, tradicionalmente, os moradores do Salgueiro iam passear na Ilha de Paquetá. Ele mobilizava o pessoal do Morro, divulgando o evento e vendendo os convites para o passeio.

Mas seu dom se manifestava mesmo nas escolas de samba. Ali era seu terreno, seu domínio. Na Unidos, depois nos Acadêmicos do Salgueiro, ensinava e organizava a evolução das pastoras, arrumava as alas, organizava a escola e ainda batia um pandeiro para incentivar a bateria.


Na quadra ele improvisava, de vez em quando, uma roda de samba, um pioneirismo que muita gente lhe atribui. Era só ter cerveja encalhada que Calça Larga convidava alguns ritmistas e promovia um concurso de passistas. Estava armado o pagode. Enquanto as passistas sambavam e as torcidas comemoravam, Calça Larga vendia o encalhe de cerveja.

Calça Larga sempre foi incentivador da fusão das três escolas do Morro do Salgueiro - a sua Unidos do Salgueiro, Depois eu Digo e Azul e Branco -, mas quando a união aconteceu, após o carnaval de 1953, ele não aderiu, pois desejava ver a nova escola com as cores - azul e rosa - e o nome da sua escola.


Ficou à frente da Unidos por pouco mais de um ano, quando foi participar do processo de fundação de outra escola de samba, a União de Jacarepaguá. Por sua habilidade política, bastante útil para a criação da escola, foi eleito o primeiro presidente da nova escola.


Mas sua vida não seria completa se não retornasse ao Morro do Salgueiro, seu verdadeiro lugar. E assim foi. Chegou aos Acadêmicos para tornar-se uma das maiores figuras da história da escola.


O carnaval de 1963 foi um capítulo especial na história de Calça Larga, quando foi um indiscutível líder no desfile que deu a incontestável vitória ao Salgueiro. Mas tanto empenho e esforço lhe valeram sérios problemas de saúde. Após o anúncio da vitória, Calça Larga foi internado no Hospital dos Servidores. Apesar de as doenças não terem lhe diminuído o ânimo, ele achava que era hora de parar. "Já sou campeão, quero me afastar", disse.

Passado o susto, Calça voltou para casa, mas alguns meses depois, contrariando sua própria decisão, voltou ao Salgueiro para reassumir o posto de diretor-geral e comandar a escola novamente.

Os preparativos para o desfile de 1965 já haviam começado. No dia 28 de agosto de 1964, uma sexta-feira, o ensaio do Salgueiro acontecia como sempre. As pastoras evoluíam com graça sob o comando de Calça Larga, de boné branco, as calças boca de sino e um apito, com o qual acentuava as ordens que dava. De repente, ele deu um giro em torno de si e caiu. A bateria parou e todos correram para o centro da quadra (que levaria seu nome) para tentar levantar os 130 quilos de Calça Larga. Antes de ser levado para o hospital, o comandante ainda balbuciou uma ordem: "Não parem o ensaio por minha causa... O samba tem que continuar!".

Poucas horas depois falecia Joaquim Casemiro Calça Larga. A notícia emocionou o mundo do samba e toda a cidade. Todos tinham consciência da enorme perda e da lenda que naquele dia nascia.


Fonte: www.salgueiro.com.br (site oficial do G. R. E. S. Acadêmicos do Salgueiro)


Sem maiores informações, no momento.

Mas que ele fez bonito, fez!

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