sábado, 24 de outubro de 2009

UM MOMENTO DE REFLEXÃO COM UM MESTRE





Dois discursos em épocas e locais diferentes. Observa-se, contudo, a mesma linha de raciocínio de um coerente e altruísta homem público. Eu próprio, por defender minhas verdades, perdi, também, algumas batalhas; entretanto, estou satisfeito com o fim da minha guerra. Quem dera se todos pudessem pensar que o mais importante é fazer e não vencer.

Leiam e reflitam sobre as pérolas de sabedoria.


-o-o-o-o-o-o-


Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.

Tentei salvar os índios brasileiros, não consegui.

Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.

Tentei fazer o brasileiro desenvolver-se autonomamente e falhei.

Mas os fracassos são as minhas vitórias.

Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.


-o-o-o-o-o-o-


Sou um homem de causas. Vivi sempre pregando, lutando, como um cruzado, pelas causas que comovem. Elas são muitas, demais: a salvação dos índios, a escolarização das crianças, a reforma agrária, o socialismo em liberdade, a universidade necessária. Na verdade, somei mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas isso não importa. Horrível seria ter ficado ao lado dos que venceram nessas batalhas.

Darcy Ribeiro

Antropólogo, escritor e político brasileiro – Suas obras foram traduzidas para diversos idiomas (inglês, alemão, espanhol, francês, italiano, hebraico, húngaro, checo). Considerado um dos mais notórios intelectuais brasileiros.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

MIRACEMA DE ONTEM E DE HOJE - DOCE RAINHA




Roliças pernas, evidenciadas pela curta saia de largo plissado, adentravam a sala; costumeiramente, à hora do início da aula. Esbaforida, mas sempre sorridente. Simpática e muito bonita. Éramos crianças e vivíamos um clima de irmandade.

Eu me despedi da Maria das Graças Alves e de outros colegas da 4ª série do G. E. Dr. Ferreira da Luz quando da minha admissão ao ginásio, um ano antes do previsto, por força da orientação da Dª Orlanda (minha grande preceptora).

Embora não compartilhássemos os mesmos bancos escolares, eu continuava a vê-la. Na maioria das vezes, na loja “Casa Rainha”, de sua mãe, Arlete Alves. O comércio era de roupas femininas e de tecidos finos.

Segunda metade da década de 60.

Aproximava-se mais um fim de semana. De repente, a loja não abriu as portas.

Estranho!

Naquele tempo, na “Terrinha”, as pessoas gostavam mais umas das outras. E todos se preocuparam. Os esclarecimentos não vieram e o mistério persistia.

E o domingo chegou! E com ele a sessão das dezoito horas do cine XV. Após, era certo o “passeio” pela Rua Direita.

“SURPRESA!!!”

“Tchan, tchan, tchan, tchan!!!”

Eis que, “sem aviso e sem nada”, nos deparamos com a “Casa Rainha” de portas abertas, com luzes acesas e mais brilhantes.

A curiosidade tomou conta da mente de cada um: “Por que uma loja de tecidos reabriria num domingo à noite?”.

A aglomeração de pessoas às suas portas foi inevitável.

-- Ohhh!-- Ohhh!.

Bocas abertas e olhos arregalados.

—Vou entrar.

-- Eu também.

Os que estavam mais atrás, espremidos a outros, tentavam empurrar os que estavam à frente.

—O que que é?

—O que tem lá?

Inusitada, louca e deliciosa idéia tomou conta dos “Alves”.

Todas as grandes vitrines, inteiramente de vidro, cederam o espaço, antes destinado aos manequins, a novidades antes não vistas em Miracema.

Guloseimas variadas – de apetitosos salgadinhos a finos doces – arrumadas com esmero em bandejas dispostas com classe e bom gosto.

Sucesso total! Difícil era passar por suas portas sem se sentir tentado.

Criatividade e ousadia miracemenses.

E o novo nome:

“PEG-PAG”.

O primeiro (?) de que se tem notícia.

Interessante ressaltar a peculiaridade dos consumidores: “pegavam e pagavam”. Bonito e emocionante. Evidenciava-se a nobreza da honestidade que existia.

A propósito desta história: antes que sepultem os paralelepípedos, eu podia pegar “unzinho só” e pagar. Eu queria ser enterrado com um!

Ihhh! Eu esqueci que não quero mais paralelepípedos!

MORAL: Não vou mais pedir um paralelepípedo; mas deixarei no ar: Miracemenses: provavelmente, vocês terão intermináveis “tachões” no asfalto das suas vidas.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

MIRACEMA DE ONTEM E DE HOJE - O SENHOR DO BINÓCULO















Nas retretas da original Praça Ary Parreiras, eu me escondia dos meus pais dentro das arvoretas que a circundavam. Sofria com as “lacerdinhas” mas me deleitava com a peripécia.

Hoje, todo o cenário está de volta (o coreto, os bancos e as futuras novas arvoretas), exceto pela ausência do meu pai (que se foi), pela minha condição física (que também se foi) e pelas “lacerdinhas” (que já não mais existem?).

Mas... Nesse intervalo...

Transcorria a segunda metade da década de 60. A antiga praça tinha sido transformada. Se concordávamos ou não, não importava – a modernidade encantava! Pela arquitetura à "Niemeyer"e pelas poucas mas encantadoras plantas viçosas, estas mais por sua tenrura do que por sua ternura. Tais que pareciam transportar a jovialidade e o brilho do seu viço aos olhos dos jovens que ali faziam “ponto”.

E eu era um deles... Loucura, gente!

As cinco palmeiras eram ainda muito pequenas. Existia um “guarda-chuva” de concreto, na altura da casa do Dr. Ururahy. Atrás desse “monumento”, aquelas tais plantas, circundando os parcos e curvos bancos, serviam para algumas incursões desses enamorados.

E eu era um deles... Que leve loucura, gente!

Quando o espaço era pequeno para os... sei lá, como dizer... amassos?... dividíamos, irmãmente... e, até mesmo, nos acomodávamos nos balaústres da praça para o jardim, ou íamos para este quando não estava totalmente ocupado (bancos, palmeiras ou outros “escurinhos!”).

E eu era um deles... Que doce loucura, gente!

Ocorreu, porém, certa vez, que venho a “ter” com um dos moradores das imediações. Já idoso e sem outras perspectivas, ele se locupletava em observar de binóculo os incautos amantes. E dizia conhecer quase todos e o que faziam.

E eu era um deles... Preocupante loucura, gente!

Viro-me para outro lado, mudo o meu tom de voz e lhe pergunto; o senhor me conhece? Ele me perfila e seu cenho me revela a preocupação. (Pensei) Não... não! Eu não vou esperar. Sua fisionomia denotava o que eu não queria ouvir ou saber. Enquanto ele pensava o que ia responder, saí de “fininho”, a lhe dizer:” --Sr. Machado, preciso voltar ao trabalho.”

À noite, voltei à praça. Avisei à minha acompanhante que devíamos ter cuidado. Apontei-lhe a casa, dizendo-lhe: “Vês aquela casa sem luzes acesas? Estás a ver aquela janela escura? Ela não parece ter um algodão com algo brilhando no meio? Pois é?! É o “coroa” de cabelos brancos que de binóculo fica a vigiar todos os movimentos de nós... supostos libidinosos.”

E eu era um deles... Cativante (ou ardente) loucura, gente!

Não deixei de fazer o que fazia. As carícias eram mais fortes que o medo de ser flagrado. Também não mais falei com ele. Por falta de oportunidade. Não por desavença.

Assim como não a tenho com outros “olhos” (os paralelepípedos) que a tudo viram. Eu ainda vou “conversar” com eles. Será que eles vão me denunciar – dizer o que já fiz? É claro que não! Eles são de “boa paz”. Mas, infelizmente, os bons morrem primeiro.

MORAL: Não vou mais pedir um paralelepípedo; mas deixarei no ar: Miracemenses: provavelmente, vocês terão incontáveis “tachões” no asfalto das suas vidas.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

MIRACEMA DE ONTEM E DE HOJE - ASSOMBRAÇÕES











Até a primeira metade da década de 60, vivíamos a pré-adolescência. Eu vivia mais ligado à turma da Rua do Sapo. Com aqueles moleques, menos abastados (mais ou menos), vivi momentos maravilhosos (dos jogos de terra, de ar e até os mergulhos na represa do Ribeirão Santo Antônio – lá na Usina Santa Rosa).

Costumava ir com eles ao Cine Sete (que sustentava a Banda Sete), em detrimento ao Cine Quinze (que sustentava a Banda Quinze), que era mais caro.

Passagem de volta obrigatória no Bar Pracinha (quando era na esquina da Francisco Procópio com a Rua Direita) e tomar a novidade do momento, que era a “Cola” litro. Dava pra seis e até oito, mas, da seguinte forma: meio copo do “negócio” e açúcar refinado por cima (daqueles açucareiros de vidro, base de borracha e chaminezinha com tampinha retrátil, destinados ao cafezinho). A “coisa” fervia, espumava e levantava o líquido até a borda do copo. Aí, rapidamente, bebia-se aquilo (argh). Era uma alternativa para quem tinha poucos centavos. Quem sempre ficava com cara de “poucos amigos” era o garçom Lúcio (os Salim nem tanto).

Rapidamente, após, caminhávamos pela Rua Direta e chegávamos ao Jardim. Ali, sempre existiam contadores de histórias. Tinha um, porém, que dizia não ser um deles. O Napoleão (? – não o funileiro, o outro) insistia em se intitular como um “lobisomem” aposentado. Como era velho e tinha vitiligo, nós, simples crianças, chegamos até a acreditar. Dentre várias historietas suas, selecionei uma (do tempo em que o “Cruzeiro” era de pau e mais alto):

“Eu dormi cedo, principalmente porque ameaçava muita chuva. O temporal veio e eu não me apercebi. Quando foi lá pelas onze horas,uma das minhas mãos começa a esfriar e me dar cócegas. Acordo e levanto-me assustado e vejo que minha casa, que fica logo abaixo do Cruzeiro, estava inundada. Saio em desabalada correria morro acima (o pouco “pedaço” que restava). Lá de cima, me dou conta que o temporal foi pior do que se previa. Eu comecei a me preocupar mais porque a chuva persistia e as águas continuavam a subir. Quando elas começaram a molhar os meus pés, não me restou outra alternativa que não subir no Cruzeiro. Lá de cima, eu tentava ver alguma coisa lá em baixo. Nada! Eu, lá na pontinha... entretanto, as águas já tocavam novamente os meus pés. Vou morrer! Mas ocorreu um milagre – a chuva parou e as águas baixaram rapidamente. Eu voltei a dormir. Pela manhã, desci o morro e perguntei a várias pessoas como elas se portaram diante do “dilúvio”. Todas respondiam que foi muita chuva mas que conseguiram controlar as águas”

Como ele sempre voltava à historieta, mudei para outro contador de histórias, lá na Praça do Redentor, no final da Rua do Sapo. O Paulo, ex-BANERJ (antes de ir pra lá) e irmão do Batistão, ex-CREDIREAL, só contava casos de fantasmas. E pra chegar em casa? Correria pelo meio da rua.

Recentemente, ao voltar da casa do sogro do meu filho – a visitar as netas que aqui moram, resolvo fotografar os “tachões” entre Chapéu de Sol e Atafona, para subsidiar minhas crônicas sobre o “possível” asfaltamento das ruas centrais de Miracema. Eram 19h30min. Eis que, para minha surpresa, “algo” se manifesta contra o meu propósito. Os “fantasmas” de Atafona. As fotos são perturbadoras. Ainda bem que eles são de boa paz! Desci do carro e aspirei o ar e esperei por eles – que não vieram.

Mas, em Miracema... não sei, não!

MORAL: Não vou mais pedir um paralelepípedo; mas deixarei no ar: Miracemenses: provavelmente, vocês terão fantasmagóricos “tachões” no asfalto das suas vidas.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

MIRACEMA DE ONTEM E DE HOJE - CARNAVAL LUNÁTICO







(20.07.1969) - "Este é um pequeno passo para o Homem mas um salto gigantesco para a Humanidade". O Homem acabava de “chegar” à “Lua”. Alguns, até hoje não acreditam. Sob o aspecto filosófico da “Teoria da Conspiração”, outros afirmam ter sido a maior fraude do século.

(Carnaval de Miracema) - O Zé “Faca”, considerado o maior carnavalesco de Miracema, era bem humorado nas suas mirabolantes idéias de fantasias. Eu o acompanhei na década de 60. Já saiu de terno e maleta brancos, com dizeres que misturavam Medicina e Política. De outra vez, “estacionou” em frente ao Bar Central (hoje Miragás), do Homero Alvim, uma miniatura de caixão (à época, o Chiquinho Gama e o Álvaro Gonçalves fabricavam caixões para “pobres” e “indigentes” que não eram de tábuas e sim de largas ripas cobertas com um tecido roxo com desenhos dourados - eram até bonitos – será?); e nela pregou uma placa: “Taxi”.

A música “Aqui tens a chave do meu barracão”, cantada por Orlando Dias, inspirou o “Manel Badeco”. Como era grande marceneiro – ele deve se lembrar disso - fez um barracão com uma chave enorme em cima de um caminhão (acho que era do Lelei do Pida). Uma mesa no centro da carroceria abrigava as mais diversas bebidas e especiarias.

(Carnaval de Miracema, em 1970) - Mas, dentre tantas outras (sejam de um ou de outro), por certo, a melhor criação foi em homenagem à “conquista lunar”: No mesmo caminhão, o “Manel Badeco” conseguiu reproduzir o que muito se parecia com um foguete (módulo de comando Columbia). Rodaram toda a cidade, de bar em bar. Os “maduros astronautas” desciam de uma escadinha à procura de reabastecimento. Não vou declinar os nomes, pois, com certeza, vou cometer algum esquecimento. Mas sobre como eles se vestiam, eu digo: “Estavam de saiotes e bustiês em chita de tom verde-azulado e lenços na cabeça (a imitar os capacetes). O mais inusitado, porém, era a imitação dos tanques de oxigênio: frascos plásticos de soro (daqueles hospitalares) cheios de cachaça e seus equipos (mangueirinhas) pelos quais eles “respiravam” (na verdade, bebiam – e como!).

As sonoras campânulas faziam todos fremir com as músicas carnavalescas e, por vezes, anunciava “o Homem na Lua”. Não houve quem não chegasse à porta ou à janela para deliciar-se com o espetáculo. Não raro era ver formar-se um cortejo, que se adensava com a “Turma do Fogaréu”.

Quantas coisas interessantes esses olhos (paralelepípedos) da Rua Direita já viram, não?

MORAL: Não vou mais pedir um paralelepípedo; mas deixarei no ar: Miracemenses: provavelmente, vocês terão muitos “tachões” no asfalto das suas vidas.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

MIRACEMA DE ONTEM E DE HOJE - UM AMOR DENTRO DE UM CARRINHO DE MÃO







Defronte ao Hotel Braga (na curvinha), o “Nefá” (Nafaa Murched El Khoury) tinha sua loja de material de construção e assimilados. Tinha até “carrinho de mão”. Eu já trabalhava no Hospital. Eu e minha irmã Neuza Maria. Controlávamos e pagávamos as contas. Inclusive as feitas naquela loja. Até aí tudo bem não fosse o Joel de Oliveira, na virada de 1971 para 1972 (ele estava lá desde que... não sei!).

Normalmente, o Provedor, Dr. Salim Bou-Issa, tinha as pessoas de sua confiança que faziam as compras. Surpreendeu-me a determinação da compra de um “carrinho de mão”??? (já existiam carrinhos por lá).

Lógico, que eu não iria questionar. Entretanto, sapiente e de grande tirocínio, ele observa a minha curiosidade e diz para eu ir àquela loja e pagar à vista e diretamente ao dono, a quem eu conhecia bem.

Lá chegando, efetuo o pagamento contra recibo; ameaço sair, mas... desfiro ao Nefá um olhar sem graça mas... inquisitivo... Ele, que, também, não era nada “bobo”, coça a cabeça, esboça um sorriso diferente e “me sai com essa”:

“Sabe o que é, Bebeto. Eu fui falar com o Salim que o Joel, todos os dias, após fazer seus mandados, ficava a conversar com o carrinho de mão, que estava ali, na calçada. E eu comecei a prestar atenção no que ele dizia:

--Você é lindo!

--Você ainda vai ser meu!

--Você pode me ajudar a trazer leite das vacas para a Cooperativa!

--Eu até durmo junto com você!

--Não vá embora, não! Eu volto amanhã!

“Após beijos e abraços, lá se ia ele, para voltar no dia seguinte. O Salim se comoveu!”

E eu também! Ao chegar de volta ao Hospital, procuro o Joel e lhe dou um abraço bem apertado. Até o final do ano passado, ele ainda estava lá (eu o procurei e o abracei novamente).

Que bom que as criaturas tivessem esse amor pelos objetos.

Quantas coisas esses olhos de paralelepípedos já viram, não?

MORAL: Não vou mais pedir um paralelepípedo; mas deixarei no ar: Miracemenses: provavelmente, vocês terão vários “tachões” no asfalto das suas vidas.

MIRACEMA DE ONTEM E DE HOJE - OLHOS E CORDAS MUSICAIS







No final da Rua Direita (que se dá lá pela Rodoviária), após o pórtico que restou da Fábrica de Tecidos, ainda pode-se ver construções que, no passado, eram galpões que serviam de depósitos à Estação Ferroviária para o que ia ser embarcado nos trens (café, mais tarde, arroz, etc.). Armazenavam também tambores de inflamáveis até que terrível incêndio os projetou aos ares em todas as direções; felizmente, a maioria foi ter no Ribeirão Santo Antônio (pena dele!).

Após a desativação das ferrovias pelo governo JK, os galpões tornaram-se imprestáveis a tal propósito, vindo a servir a outras finalidades.

E uma delas foi gratificante para os jovens emergentes da década de sessenta. Os não tão exigentes ao elitismo. De carteirinha com a inscrição “permanente”, eu tinha acesso aos bailes que angariavam fundos para os desfiles das escolas de samba do Calil e do Jair Polaca.

No Jair: O Gil, que foi bamba na tuba da Banda Sete, já com quase oitenta anos ainda fazia uns “graves”, só que, agora, num contrabaixo elétrico (sempre de paletó, sem gravata, chapéu de feltro e olhos fechados, já que tinha ficado cego). O Romilto(n?) era fantástico, pois era o melhor, exercia um fascínio na guitarra elétrica (dava “nervoso” vê-lo, pois tinha um problema nos olhos que balouçavam de um lado para outro à medida que seus dedos dançavam freneticamente sobre as cordas – também tinha um problema nas pernas, por acidente). O “Farofinha” (desculpe, perdi o nome) era um virtuose no violão; sempre acompanhou os seresteiros da cidade (só que era estrábico – nunca se sabia para onde estava olhando).

No Calil: O Zé Viana, com o seu incrível trompete. O Waldemar no ritmo da bateria (também o fazia na Banda Sete). E o Lula Pimenta (que também ficou cego – mas ainda está conosco).

Empolguei-me com todos eles e, em 1968, montei o conjunto “The Mirashines”, que mudou para “Módulo 5”; o Hélio Nascimento (do Marcellino) o assumiu e alterou para “Hélio e seu Conjunto”. Depois, me afastei: só sei que nesse “movimento”, ninguém teve problemas de “olhos”.

A não ser que, hoje, não consigamos ter olhos para ver os outros “eternos(?)” olhos: os paralelepípedos, que presenciaram, infelizmente , o atropelamento e a morte do “Farofinha”, na curva do rinque.

MORAL: Não vou mais pedir um paralelepípedo; mas deixarei no ar: Miracemenses: provavelmente, vocês terão alguns “tachões” no asfalto das suas vidas.