Roliças pernas, evidenciadas pela curta saia de largo plissado, adentravam a sala; costumeiramente, à hora do início da aula. Esbaforida, mas sempre sorridente. Simpática e muito bonita. Éramos crianças e vivíamos um clima de irmandade.
Eu me despedi da Maria das Graças Alves e de outros colegas da 4ª série do G. E. Dr. Ferreira da Luz quando da minha admissão ao ginásio, um ano antes do previsto, por força da orientação da Dª Orlanda (minha grande preceptora).
Embora não compartilhássemos os mesmos bancos escolares, eu continuava a vê-la. Na maioria das vezes, na loja “Casa Rainha”, de sua mãe, Arlete Alves. O comércio era de roupas femininas e de tecidos finos.
Segunda metade da década de 60.
Aproximava-se mais um fim de semana. De repente, a loja não abriu as portas.
Estranho!
Naquele tempo, na “Terrinha”, as pessoas gostavam mais umas das outras. E todos se preocuparam. Os esclarecimentos não vieram e o mistério persistia.
E o domingo chegou! E com ele a sessão das dezoito horas do cine XV. Após, era certo o “passeio” pela Rua Direita.
“SURPRESA!!!”
“Tchan, tchan, tchan, tchan!!!”
Eis que, “sem aviso e sem nada”, nos deparamos com a “Casa Rainha” de portas abertas, com luzes acesas e mais brilhantes.
A curiosidade tomou conta da mente de cada um: “Por que uma loja de tecidos reabriria num domingo à noite?”.
A aglomeração de pessoas às suas portas foi inevitável.
-- Ohhh!-- Ohhh!.
Bocas abertas e olhos arregalados.
—Vou entrar.
-- Eu também.
Os que estavam mais atrás, espremidos a outros, tentavam empurrar os que estavam à frente.
—O que que é?
—O que tem lá?
Inusitada, louca e deliciosa idéia tomou conta dos “Alves”.
Todas as grandes vitrines, inteiramente de vidro, cederam o espaço, antes destinado aos manequins, a novidades antes não vistas em Miracema.
Guloseimas variadas – de apetitosos salgadinhos a finos doces – arrumadas com esmero em bandejas dispostas com classe e bom gosto.
Sucesso total! Difícil era passar por suas portas sem se sentir tentado.
Criatividade e ousadia miracemenses.
E o novo nome:
“PEG-PAG”.
O primeiro (?) de que se tem notícia.
Interessante ressaltar a peculiaridade dos consumidores: “pegavam e pagavam”. Bonito e emocionante. Evidenciava-se a nobreza da honestidade que existia.
A propósito desta história: antes que sepultem os paralelepípedos, eu podia pegar “unzinho só” e pagar. Eu queria ser enterrado com um!
Ihhh! Eu esqueci que não quero mais paralelepípedos!
MORAL: Não vou mais pedir um paralelepípedo; mas deixarei no ar: Miracemenses: provavelmente, vocês terão intermináveis “tachões” no asfalto das suas vidas.
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