quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

DESPEDIDA DE MIRACEMA DE ONTEM E DE HOJE

Não é nada fácil convencer milhares de pessoas que vivem na mesma comunidade, de forma gregária.

Na verdade, é impossível.

De mais a mais, ninguém tem o direito de invadir a mente de outrem com a intenção de incutir nela idéias suas.

Eu mesmo não permito interferência. Digo sempre: “Não termine a minha fala e não bote palavras na minha boca. Não entre na minha mente – ela é privativa! Não pense por mim, sei o que quero!”.

É lógico que tais colocações são próprias de um embate de radicalismo contra radicalismo. Mas é possível assumir uma posição sem agressão. É importante, neste contexto, observar se a formação educacional e cultural foi bem conduzida por seus pais e preceptores.

A partir do momento em que soube do destombamento do Centro Histórico de Miracema, que se deu, ao que parece, sem nenhum estudo científico e sem plebiscito, decidi por expor minha opinião.

Tracei uma estratégia e me disciplinei a executá-la. Resolvi não agredir ninguém, citando nomes e/ou cargos. Para mostrar a minha posição, optei por chamar a atenção com historietas sobre fatos históricos e personagens da “Terrinha”.

A princípio, os textos parecem não ter nada a ver com a causa. Observe-se, entretanto, que, no seu corpo, em algum ponto, existe uma referência ao tripé das palavras-chave que serviram de base às três séries de crônicas. Ao final, um comentário ao estilo de parábola ensejava uma reflexão.

Nada de imposição ou discussão.

Tentei ser sutil nos textos, tratando com polidez o questionamento.

Talvez tenha abusado das metáforas, procurando com elas um eufemismo a mitigar crises com pessoas amigas mas divergentes.

Nesses meses, foram postadas 7 crônicas sobre ‘PARALELEPÍPEDOS”, 7 sobre “TACHÕES” e 7 sobre “OITIS (com associação a CÓXIS)”.

Ao final desses 21 textos, dou por encerrada a minha participação literária e bloguística no movimento, como instituída em forma de série.

Agradeço a todos que me acompanharam e suportaram minhas histórias e parábolas.

Nada obstante a minha volta ao curso normal do blog, estarei atento e pronto a “botar a faca entre os dentes e pular com os “quatro pés” (?) em cima das mesas e “RAMBEAR” pela causa.

Se for preciso, vamos nos ater ao ponto de vista técnico. Também sei falar sob este aspecto.

Obrigado aos que ”são” ou “estão” Miracemenses. Vocês merecem o melhor.

Mais uma vez, apago e choro.

“MIRACEMA ACIMA DE TUDO”

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

MIRACEMA DE ONTEM E DE HOJE - A ÁGUIA E SUA "PRESA"

Vrummmm! Vrummmm!

Tinha-se a impressão que a motocicleta ia alçar vôo. Mas, que nada! Ela embicou... os dois por baixo e a máquina por cima, a pressioná-los contra o calçamento defronte à gruta, onde o fogo dos círios parecia conclamar Santo Antônio no alto da Igreja Matriz a protegê-los. E os dois audazes jovens sobreviveram... com seqüelas, é verdade.

José Heller Tancredi e Heitor Aversa nunca mais foram os mesmos... fisicamente! O Helinho “Relojoeiro” ficou com a perna dura devido a problemas no joelho. O Heitor precisou de uma prótese (de pau/madeira – de vez em quando ele fazia um “toc-toc”, que impressionava os desavisados).

Num certo carnaval (entre 60 e 62), o Heitor saiu “mascarado de mulher”. Bolou uma fantasia de roupão longo; na altura do busto, duas lâmpadas imitavam os seios e piscavam à medida que ele andava. Provocou curiosidade. Muita. Porém, mamãe, sempre sapiente, confidenciou-me: --Quem não sabe que é o Heitor Aversa? E eu nunca mais me esqueci. Sua mulher já era a minha grande professora e, quando adulto, eu me tornei bancário como ele.

O Helinho (talvez de tanto mexer com as engrenagens dos relógios) resolve enfrentar certos desafios e cria uma das... das... não sei dizer, ao certo. Mas vou descrever.

O público, do Jardim até o Hotel Braga, se assombra com o carro alegórico que apresenta uma gigantesca águia (como a da Portela) movimentando suas asas. Lentamente, e “ao compasso do samba”, percorre os poucos metros da Rua Direita.

Uma gangorra presa ao bico da ave deixava a balouçar sua importante presa. No auge da sua juventude e formosura, lá estava, imponente e majestosa, de biquíni branco (coberto de penas, se me lembro bem), a Ivonete. A sorrir e a sorrir. Linda! Balançava-se assim como nós balançávamos os nossos olhos.

Assim também balançavam outros olhos: os milhares de paralelepípedos. Eles estavam lá e eu também. Os oitis (oitizeiros) sofreram com aqueles que neles subiam para melhor apreciar o espetáculo.

Alguns “olhos” serão cobertos “em vida”, porém, os meus... só a Morte os cobrirá. E eles se lembrarão que o espetáculo foi... MA-GIS-TRAL! ... IM-PER-DÍ-VEL!

MORAL: Miracemenses, cuidem dos oitis, eles podem ser úteis para aqueles que aumentarem o seu cóxis.

MIRACEMA DE ONTEM E DE HOJE - ATENDIMENTO "VIP"

Antes de assumir o Bar Central, do seu irmão Vavate, o Zé Careca passou algum tempo no Bar Leader, que era do Homero Alvim.

Pela manhã, os fazendeiros, com água mineral e cafezinho sobre as mesas, ficavam a discutir as formas de administrar as suas propriedades.

Durante todo o dia, os jovens entravam para comprar salgados, doces e biscoitos ou saborear os refrigerantes.

À noite... Bom! Aí a “coisa pegava”. O recinto era invadido pelos amantes do etilismo. Alguns só de passagem, outros para ficar (os pinguços de plantão). Não era raro ocorrer fatos incomuns.

Certa vez, o Cacá Lima empolgou-se tanto que tomou um açucareiro em suas mãos e se pôs a cantar e dançar. Rodopiava de tal forma que o açúcar era projetado em todas as direções, por todos os cantos do bar. Eu me “mandei” para o outro lado da rua e, debaixo dos oitis (oitizeiros), fiquei a esperar o “ataque” passar. Ele, meio que arrependido, achega-se ao dono, no caixa, e, baixinho, lhe diz: “Seu Zé, bota tudo na minha conta!”. O sempre simpático, paciente e sorridente Zé Careca se aproxima do Cacá e sussurra ao seu ouvido, laconicamente: “Já botei!”.

De outra feita, o fato mais inusitado. A Rua Direita “dava mão” para os dois lados e o bar ficava ao lado da loja do Zé de Assis (faz parte, hoje, da Miragás). Era uma noite de meio de semana. Eis que, para surpresa de todos, irrompe bar adentro uma Rural, a empurrar mesas e cadeiras para os lados e os fregueses para os banheiros e reservados dos fundos, até estacionar ao lado balcão. Pulei sobre as reviradas mesas e cadeiras e fui ter aos oitis do outro lado da rua, onde, embasbacado, fiquei a matutar: “O que leva um cara entrar no bar de carro?” Como o veículo já estava desligado, sem oferecer algum risco, aventurei-me a voltar e obter resposta à minha curiosidade.

Então, eu pude ouvir a voz grave do Getúlio Bastos:

“Zé, me dá uma “zinha” aí!”

MORAL: Miracemenses, cuidem dos oitis, eles podem ser úteis para aqueles que aumentarem o seu cóxis.

MIRACEMA DE ONTEM E DE HOJE - DIREITA OU ESQUERDA?

Acredito que toda cidade que é ou já foi pequena tem ou já teve a sua “Rua Direita” – qual seja, a rua principal.

Mas será que uma “Rua Direita” pode ser também “Esquerda”? Ainda não tinha pensado por esse lado.

Aí, passo a me lembrar de certas “nuances” da minha cidade e da sua Rua Direita (com direito a uma possível Esquerda, talvez?).

É que lá, nos idos dos anos sessenta, existia um comportamento um tanto quanto esquisito (existia também em outras localidades), que eu costumo classificar como marcante na “Atipicidade de uma Cidade”.

As pessoas que passeavam pelas ruas e pelo jardim dividiam-se entre as calçadas de um lado e outro da Rua Direita de acordo com sua etnicidade ou condição social.

Na calçada da direita (do lado do ribeirão), concentrava-se a casta elitista; na calçada da esquerda (do lado Rua das Flores), os demais.

Essa formação perdurava ainda quando se dirigiam ao jardim. Os transeuntes do lado direito entravam no jardim, por entre as palmeiras, circundavam a fonte luminosa e voltavam à Rua Direita pelo lado direito. Os transeuntes do lado esquerdo apenas contornavam o jardim, tomando as calçadas laterais, por debaixo dos oitis (oitizeiros) passando pela esquina do início da Rua das Flores, chegando até as imediações da Igreja Matriz e voltavam à Rua Direita pelo lado esquerdo.

Estranho notar que os oitis da Rua Direita só existem no lado direito.

Por vezes, eu andava no “meio da rua”. Não porque eu fosse indeciso ou não optasse por qual “lado do muro”.

Simplesmente eu não concordava!

Ademais, eu carregava uma “mulatinha” a tiracolo.

MORAL: Miracemenses, cuidem dos oitis, eles podem ser úteis para aqueles que aumentarem o seu cóxis.

MIRACEMA DE ONTEM E DE HOJE - BANCO GUARDA-VALORES OU GUARDA-GENTE?

Trimmm.

Sexta-feira. Dezenove horas. Já devia estar longe. Atendi:

-- BANERJ, boa noite. Bebeto falando.

-- Quem fala? (Sem alô. Sem boa-noite. Sem se identificar. A respiração arfada evidenciava nervosismo na pessoa que estava do outro lado da linha. A voz entrecortada denotava ansiedade. Não a reconheci de pronto.)

-- É o Bebeto (voltando a me identificar).

-- Bebeto, Você precisa me ajudar! (Os decibéis e a tremulação aumentavam.)

-- Calma, cara! Quem está falando?

-- É o Geraldo, do Nacional (banco). Você precisa me ajudar!

-- Calma, Geraldo! O que está acontecendo?

-- Estou preso!

-- Como preso? Explique-se e eu ajudo. (Notava-se um arrefecimento no seu nervosismo.)

-- Todos já tinham ido embora e eu fui passar à Matriz o resumo do dia, que, por conter informações confidenciais, é transmitido pelo telefone de segurança dentro do guarda-valores.

-- E...

-- A porta bateu e eu não consigo abrir. Já tentei ligar para o João Carlos, para o Zica, para a Elcy... Não consigo falar com ninguém.

-- Mas como eu vou entrar na agência?

-- A grade está arriada e a porta de vidro encostada - não estão trancadas. Só tem uma lâmpada acesa (ambiente em penumbra) para que da rua não percebam que ainda tem gente aqui dentro.

Dirigi-me para lá (poucos metros). Realmente, não encontrei empecilhos para entrar. O problema foi a porta do guarda-valores. Não tinha jeito de abrir. Não me lembro onde consegui algumas ferramentas. Recordo-me de retirar os pinos das dobradiças e remover a porta inteira.

Assim que o fiz, fui abalroado por algo que se assemelhava a um bólido, que, continuando a sua trajetória, passou por cima de mesas e cadeiras (como o “The Flash”), pulou o balcão (como um ginasta do “cavalo” das Olimpíadas) e atravessou a porta e a grade (como Houdini).

Fui atrás dele, mas não o vi. Sentei-me no meio-fio, debaixo dos oitis (oitizeiros), pois estava extenuado pelo esforço – camisa arregaçada e suada e a gravata desenlaçada.

O Geraldo (lá de Cataguases) era branco-leite. Não sei como ele ficou ainda mais branco. Trêmulo e suado, sai ele do Bar Leader (em frente) com duas garrafas de água mineral – uma ele levava à boca e a outra despejava sobre a cabeça.

Vem chegando o João Carlos, com aquela sua calma peculiar (típica da fleuma britânica). Esboça um sorriso, do tipo “amarelo”, e atiça o Geraldo, que esbraveja: “Porque não foi com você, cara! Porque não foi com você, cara! E se ninguém me atende ou se o telefone não funcionasse. Se ninguém pensasse em “abrir” o Banco, eu passaria todo o fim de semana naquele cubículo, como um condenado na solitária.”

Debaixo dos oitis, os dois ficaram a discutir estratégias para evitar futuros problemas idênticos. Sorrateiramente, levantei-me, e, sem me despedir, dirigi-me ao Bar Mocambo (do Nêgo Constâncio). Lá, eu me aliviaria daquela quentura (própria de uma canícula) e contaria à turma do BANERJ o tragicômico ocorrido.

MORAL: Miracemenses, cuidem dos oitis, eles podem ser úteis para aqueles que aumentarem o seu cóxis.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

MIRACEMA DE ONTEM E DE HOJE - PROGRESSO OU PROMESSA

O Buru (Sílvio Félix) foi uma pessoa muito conhecida e estimada em Miracema. Pintor de letras (faixas, cartazes) e bilheteiro do Cinema Sete. Participava de todas as conversas, principalmente quando estava nos tradicionais recintos de bar e café da “terrinha”.

Tornou-se famoso, ainda, por suas tiradas e por criar bordões que se tornaram indeléveis.

Quem não se lembra:

“Tomar um banho, hem! Trocar essa farda!”

Ou:

“Você mora longe, carrega embrulho e anda a pé. Você é feio, hem!”

Teria muito mais. Mas um foi criado por acaso e por protagonistas diferentes.

A família do “Machado” era legal. Quatro mulheres bonitas e três homens. Um deles, o Arani foi meu colega de bancos escolares (contabilidade no Colégio Miracemense). Antes, cheguei a convidá-lo para ser o baterista do meu conjunto musical.

Acompanhando a moda emergente da década de sessenta (Elvis, The Beatles, movimento hippie), ele deixa o cabelo crescer (assim como eu e outros), que cobre suas orelhas.

Certa noite, quando caminhava pela Rua Direita, ao passar em frente ao Bar Leader, eis que ouve uma voz cansada a ele dirigida:

—Arani, conheço o seu pai há anos. O que você está a fazer com o seu cabelo?

-- Como assim, Seu Chicralla?

-- Ora! Comprido e sobre as orelhas. Homem não usa isso!

-- É o “‘PROGRESSO”, Seu Chicralla!

-- “PROMESSA?” (trocou o substantivo) Você é... é... v...!”

Eu apenas corri para o outro lado da rua e me pus a rir debaixo dos oitis (oitizeiros). Mas o Buru saiu a gritar aos “quatro ventos” o acontecido.

Estava criado mais um bordão miracemense.

MORAL: Miracemenses, cuidem dos oitis, eles podem ser úteis para aqueles que aumentarem o seu cóxis.

MIRACEMA DE ONTEM E DE HOJE - A CEDAE NÃO VAI!

O Sr. Antônio Nogueira, pai do Paulo Laezer “BANERJ” e do Fernando “Chaveiro”, era simpático e educado e sempre acionado como o “bam-bam-bam” dos problemas de água e esgoto da cidade. Após ser alfabetizado, eu já podia ler e entender aquelas inscrições das “tampinhas” de ferro que existiam em todas as calçadas das casas que possuíam água encanada: SAE - Serviço de Água e Esgoto, centralizado na cidade de Campos. Elas protegiam as “penas d’água”, que eram abertas e fechadas com um tipo de chave enorme, cujo cabo mais se assemelhava ao do trado de abrir poços.

Na segunda metade da década de sessenta, foi criada a CEDAE e a regional Noroeste Fluminense instalada em Miracema. Aí, eu os perdi de vista; tanto o Sr. Antônio quanto o seu parceiro – era calvo, de bigode fino e “fala” apressada.

À época, Miracema contava com os deputados Dr. Bruno e Dr. Campanário. Pádua tentava impor sua força política com Geraldo André, José Kezen e Luiz Braz (deputados estaduais e federais), além do General Odílio Denys, de paz com a ditadura militar.

Pádua movimentou-se para levar a administração regional da CEDAE para os seus domínios. Não admitia qualquer supremacia miracemense. Uma tolice, mas era verdade.

As passeatas, principalmente aquelas lideradas pelo movimento estudantil, eram comuns nos grandes centros do país, a contestar os efeitos da revolução de 64. Entretanto, sua filosofia de defesa da cidadania, por vezes, fazia-se ver em algumas cidades interioranas, de menor expressão, pelo número de habitantes.

Miracema não foi diferente, ou, pode-se dizer que se fez presente. Já pacata, após a libertação dos grilhões que a sufocava, Miracema surpreende-se em certa manhã de um dia ensolarado, quando é sacudida por manifestações imprevistas, mas acaloradas.

A Rua Direita “ferveu”. Tendo à frente os jovens dos movimentos estudantis, uma passeata serpenteava sobre os ardentes paralelepípedos e entre os refrescantes oitis em protesto ao maquiavelismo paduano.

Cantando hinos apropriados e músicas que vinham se transformando em outros hinos, ícones do repúdio ao totalitarismo, os manifestantes eram ovacionados. O tráfego não “rolava” e o comércio parou. Por horas.

Não sei dizer, com certeza, o que foi feito nas esferas superiores, mas a Regional da CEDAE continuou na “terrinha”.

Atualmente, essas posições políticas e administrativas devem ter mudado. Pelo menos, entendo que a relação Pádua/Miracema é mais amistosa.

Talvez seja devida à grande quantidade de oitis (oitizeiros) existente nas duas cidades (Miracema tem mais, por certo).

MORAL: Miracemenses, cuidem dos oitis, eles podem ser úteis para aqueles que aumentarem o seu cóxis.

domingo, 6 de dezembro de 2009

MIRACEMA DE ONTEM E DE HOJE - O RINQUE DOS OITIS

O rinque de Miracema já foi palco de muitas atividades e emoções. Eu as vivi na minha infância e na minha adolescência. Ele confrontava e ainda confronta com os fundos do Jardim de Infância, com a parte interna da Praça Da. Ermelinda, com o Parque Infantil e com a Rua Direita.

Quando criança, eu ia ver os “bailes” de Carnaval. As campânulas nos permitiam ouvir as inocentes marchinhas. Sentia-se o leve odor do “lança-perfume” e apreciava-se a performance dos mais entusiasmados foliões (de todas as idades) “circulando” pela pista.

Mas o que eu quero relatar é um acontecimento que nunca saiu da minha memória. Os “Gouveia” saem de Palma e montam, em Miracema, a “Casa Leader”, que, carinhosamente, o povo chamava de “Casa Nova”.

Pois bem! No intuito de incrementar suas vendas, precisavam divulgar sua loja e seu nome. Para tanto, dentre outras, escolheram uma forma diferente de chamar a atenção.

Montaram um poderoso time de “futebol de salão”. Em pouco tempo, a fama corria longe e lá vinham aqueles que ousavam desafiar a nossa quase imbatível “Casa Nova”. E tomavam um severo “sapeca-iaiá”. Não raro era possível ver multidões e multidões aglomerando-se nos parcos espaços do rinque para presenciarem os embates.

Eu sempre queria chegar bem cedo para presenciar a maneira inusitada que o time adentrava a quadra. Na altura do “córner” compreendido no encontro dos fundos do Jardim de Infância e da Rua Direita, era colocada uma armação de madeira, arredondada, com cerca de dois metros de diâmetro. Como se fosse uma peneira – onde a armação seria o aro e o crivo uma imensa folha de papel com a propaganda da “Casa Nova”.

E a equipe irrompia o recinto atravessando aquela armação, rasgando o papel, com o Otavinho à frente, depois o Zé Bolão e o Amim Amim (não lembro dos outros). Foguetório e delírio dos torcedores que ali estavam com a certeza de mais um triunfo. E vinha, mesmo! Eu me apaixonei por eles!

No dia seguinte, lá íamos nós, de dia, a tentar jogar da mesma forma. Entre um tempo e outro, alguns se aventuravam a degustar a “banana-de-macaco”. Eu só consegui dar três mordidas naqueles oitis. Eu preferia a sua sombra.

MORAL: Miracemenses, cuidem dos oitis, eles podem ser úteis para aqueles que aumentarem o seu cóxis.

sábado, 5 de dezembro de 2009

CÓXIS, PARALELEPÍPEDOS E OITIS



Várias teorias tentam explicar a origem do ser humano e a sua evolução. Algumas são coerentes, outras inverossímeis.

O certo, porém, é o que o homem já “andou de quatro” e já possuiu “cauda”. É indiscutível que o cóxis representa o que restou da cauda que se atrofiou. O homem, na sua evolução genética, desenvolveu inteligência, ergueu-se e caminhou em duas pernas; também aprendeu a ter habilidade com as mãos. Quando se cansava ou quando praticava o comensalismo, sentava-se; aí, provavelmente, iniciou-se a eliminação de um apêndice que, atualmente, seria extremamente antiestético e nada funcional.

Nada obstante as inconveniências, algumas (ou muitas, muitíssimas, talvez) pessoas (?) parecem querer involuir, optando pelo estágio inicial dos primatas. A inteligência se esvai e elas passam a cometer atos inconseqüentes, às vezes até insanos.

Muito por certo, o cóxis dessas pessoas (?) deve estar aumentando, ensejando uma possível volta da cauda.

Aí, é fundamental a presença dos oitis, já que seus frutos são muito apreciados pelos ainda primatas.

Esse será o tema da minha seqüência final sobre a provável “destruição” de certas instituições do Centro Histórico de Miracema.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

BLOG ACIDENTAL?






Outro apagão bloguístico, hem!

Onde eu estava?

É! Onde eu estava?

Sei lá!

Ah! Sim!

Estive em Miracema por dez dias. Depois de dois ou três em Atafona, voltei novamente a Miracema para ficar por mais quatro dias.

Também ocorreram algumas incursões a Campos para assistir aos jogos do Goytacaz junto aos meus netos (já rapazes).

Embora seja sempre gratificante estar em Miracema, alguma coisa me incomodou nas duas visitas.

Algumas crônicas, publicadas no meu blog, sobre fatos ocorridos há tempos na “terrinha”, que eu relacionei com o “não asfaltamento do Centro Histórico”, me impeliram a comentar o movimento com alguns amigos e conhecidos.

Para minha surpresa (nem tanto, se é que existia?), oito a nove, entre dez perquiridos, “queriam” a “invasão negra”.

Que decepção!

Ao sair da casa da mamãe, com destino a Atafona, deparo-me com um carro que mostra certa impaciência com a minha manobra. Abaixei o vidro e cumprimentei o motorista como a pedir desculpas.

Era o... esperem... deixem-me pensar. Como ele me sorriu e me acenou, de forma a retribuir o cumprimento, vi que era o Ivany... (a quem tenho minha simpatia quase como se fosse parente) e não o prefeito (com quem devo discordar pelo destombamento).

Já em Atafona, mesmo com sua energia, não consegui recuperar o ímpeto que tive ao iniciar meus comentários sobre o insano ato.

Entretanto, eu já tinha projetado uma derradeira seqüência sobre o imbróglio. E vou fazê-la.

Isso será explicado na próxima postagem.

Mas que estou de volta, estou!

sábado, 24 de outubro de 2009

UM MOMENTO DE REFLEXÃO COM UM MESTRE





Dois discursos em épocas e locais diferentes. Observa-se, contudo, a mesma linha de raciocínio de um coerente e altruísta homem público. Eu próprio, por defender minhas verdades, perdi, também, algumas batalhas; entretanto, estou satisfeito com o fim da minha guerra. Quem dera se todos pudessem pensar que o mais importante é fazer e não vencer.

Leiam e reflitam sobre as pérolas de sabedoria.


-o-o-o-o-o-o-


Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.

Tentei salvar os índios brasileiros, não consegui.

Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.

Tentei fazer o brasileiro desenvolver-se autonomamente e falhei.

Mas os fracassos são as minhas vitórias.

Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.


-o-o-o-o-o-o-


Sou um homem de causas. Vivi sempre pregando, lutando, como um cruzado, pelas causas que comovem. Elas são muitas, demais: a salvação dos índios, a escolarização das crianças, a reforma agrária, o socialismo em liberdade, a universidade necessária. Na verdade, somei mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas isso não importa. Horrível seria ter ficado ao lado dos que venceram nessas batalhas.

Darcy Ribeiro

Antropólogo, escritor e político brasileiro – Suas obras foram traduzidas para diversos idiomas (inglês, alemão, espanhol, francês, italiano, hebraico, húngaro, checo). Considerado um dos mais notórios intelectuais brasileiros.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

MIRACEMA DE ONTEM E DE HOJE - DOCE RAINHA




Roliças pernas, evidenciadas pela curta saia de largo plissado, adentravam a sala; costumeiramente, à hora do início da aula. Esbaforida, mas sempre sorridente. Simpática e muito bonita. Éramos crianças e vivíamos um clima de irmandade.

Eu me despedi da Maria das Graças Alves e de outros colegas da 4ª série do G. E. Dr. Ferreira da Luz quando da minha admissão ao ginásio, um ano antes do previsto, por força da orientação da Dª Orlanda (minha grande preceptora).

Embora não compartilhássemos os mesmos bancos escolares, eu continuava a vê-la. Na maioria das vezes, na loja “Casa Rainha”, de sua mãe, Arlete Alves. O comércio era de roupas femininas e de tecidos finos.

Segunda metade da década de 60.

Aproximava-se mais um fim de semana. De repente, a loja não abriu as portas.

Estranho!

Naquele tempo, na “Terrinha”, as pessoas gostavam mais umas das outras. E todos se preocuparam. Os esclarecimentos não vieram e o mistério persistia.

E o domingo chegou! E com ele a sessão das dezoito horas do cine XV. Após, era certo o “passeio” pela Rua Direita.

“SURPRESA!!!”

“Tchan, tchan, tchan, tchan!!!”

Eis que, “sem aviso e sem nada”, nos deparamos com a “Casa Rainha” de portas abertas, com luzes acesas e mais brilhantes.

A curiosidade tomou conta da mente de cada um: “Por que uma loja de tecidos reabriria num domingo à noite?”.

A aglomeração de pessoas às suas portas foi inevitável.

-- Ohhh!-- Ohhh!.

Bocas abertas e olhos arregalados.

—Vou entrar.

-- Eu também.

Os que estavam mais atrás, espremidos a outros, tentavam empurrar os que estavam à frente.

—O que que é?

—O que tem lá?

Inusitada, louca e deliciosa idéia tomou conta dos “Alves”.

Todas as grandes vitrines, inteiramente de vidro, cederam o espaço, antes destinado aos manequins, a novidades antes não vistas em Miracema.

Guloseimas variadas – de apetitosos salgadinhos a finos doces – arrumadas com esmero em bandejas dispostas com classe e bom gosto.

Sucesso total! Difícil era passar por suas portas sem se sentir tentado.

Criatividade e ousadia miracemenses.

E o novo nome:

“PEG-PAG”.

O primeiro (?) de que se tem notícia.

Interessante ressaltar a peculiaridade dos consumidores: “pegavam e pagavam”. Bonito e emocionante. Evidenciava-se a nobreza da honestidade que existia.

A propósito desta história: antes que sepultem os paralelepípedos, eu podia pegar “unzinho só” e pagar. Eu queria ser enterrado com um!

Ihhh! Eu esqueci que não quero mais paralelepípedos!

MORAL: Não vou mais pedir um paralelepípedo; mas deixarei no ar: Miracemenses: provavelmente, vocês terão intermináveis “tachões” no asfalto das suas vidas.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

MIRACEMA DE ONTEM E DE HOJE - O SENHOR DO BINÓCULO















Nas retretas da original Praça Ary Parreiras, eu me escondia dos meus pais dentro das arvoretas que a circundavam. Sofria com as “lacerdinhas” mas me deleitava com a peripécia.

Hoje, todo o cenário está de volta (o coreto, os bancos e as futuras novas arvoretas), exceto pela ausência do meu pai (que se foi), pela minha condição física (que também se foi) e pelas “lacerdinhas” (que já não mais existem?).

Mas... Nesse intervalo...

Transcorria a segunda metade da década de 60. A antiga praça tinha sido transformada. Se concordávamos ou não, não importava – a modernidade encantava! Pela arquitetura à "Niemeyer"e pelas poucas mas encantadoras plantas viçosas, estas mais por sua tenrura do que por sua ternura. Tais que pareciam transportar a jovialidade e o brilho do seu viço aos olhos dos jovens que ali faziam “ponto”.

E eu era um deles... Loucura, gente!

As cinco palmeiras eram ainda muito pequenas. Existia um “guarda-chuva” de concreto, na altura da casa do Dr. Ururahy. Atrás desse “monumento”, aquelas tais plantas, circundando os parcos e curvos bancos, serviam para algumas incursões desses enamorados.

E eu era um deles... Que leve loucura, gente!

Quando o espaço era pequeno para os... sei lá, como dizer... amassos?... dividíamos, irmãmente... e, até mesmo, nos acomodávamos nos balaústres da praça para o jardim, ou íamos para este quando não estava totalmente ocupado (bancos, palmeiras ou outros “escurinhos!”).

E eu era um deles... Que doce loucura, gente!

Ocorreu, porém, certa vez, que venho a “ter” com um dos moradores das imediações. Já idoso e sem outras perspectivas, ele se locupletava em observar de binóculo os incautos amantes. E dizia conhecer quase todos e o que faziam.

E eu era um deles... Preocupante loucura, gente!

Viro-me para outro lado, mudo o meu tom de voz e lhe pergunto; o senhor me conhece? Ele me perfila e seu cenho me revela a preocupação. (Pensei) Não... não! Eu não vou esperar. Sua fisionomia denotava o que eu não queria ouvir ou saber. Enquanto ele pensava o que ia responder, saí de “fininho”, a lhe dizer:” --Sr. Machado, preciso voltar ao trabalho.”

À noite, voltei à praça. Avisei à minha acompanhante que devíamos ter cuidado. Apontei-lhe a casa, dizendo-lhe: “Vês aquela casa sem luzes acesas? Estás a ver aquela janela escura? Ela não parece ter um algodão com algo brilhando no meio? Pois é?! É o “coroa” de cabelos brancos que de binóculo fica a vigiar todos os movimentos de nós... supostos libidinosos.”

E eu era um deles... Cativante (ou ardente) loucura, gente!

Não deixei de fazer o que fazia. As carícias eram mais fortes que o medo de ser flagrado. Também não mais falei com ele. Por falta de oportunidade. Não por desavença.

Assim como não a tenho com outros “olhos” (os paralelepípedos) que a tudo viram. Eu ainda vou “conversar” com eles. Será que eles vão me denunciar – dizer o que já fiz? É claro que não! Eles são de “boa paz”. Mas, infelizmente, os bons morrem primeiro.

MORAL: Não vou mais pedir um paralelepípedo; mas deixarei no ar: Miracemenses: provavelmente, vocês terão incontáveis “tachões” no asfalto das suas vidas.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

MIRACEMA DE ONTEM E DE HOJE - ASSOMBRAÇÕES











Até a primeira metade da década de 60, vivíamos a pré-adolescência. Eu vivia mais ligado à turma da Rua do Sapo. Com aqueles moleques, menos abastados (mais ou menos), vivi momentos maravilhosos (dos jogos de terra, de ar e até os mergulhos na represa do Ribeirão Santo Antônio – lá na Usina Santa Rosa).

Costumava ir com eles ao Cine Sete (que sustentava a Banda Sete), em detrimento ao Cine Quinze (que sustentava a Banda Quinze), que era mais caro.

Passagem de volta obrigatória no Bar Pracinha (quando era na esquina da Francisco Procópio com a Rua Direita) e tomar a novidade do momento, que era a “Cola” litro. Dava pra seis e até oito, mas, da seguinte forma: meio copo do “negócio” e açúcar refinado por cima (daqueles açucareiros de vidro, base de borracha e chaminezinha com tampinha retrátil, destinados ao cafezinho). A “coisa” fervia, espumava e levantava o líquido até a borda do copo. Aí, rapidamente, bebia-se aquilo (argh). Era uma alternativa para quem tinha poucos centavos. Quem sempre ficava com cara de “poucos amigos” era o garçom Lúcio (os Salim nem tanto).

Rapidamente, após, caminhávamos pela Rua Direta e chegávamos ao Jardim. Ali, sempre existiam contadores de histórias. Tinha um, porém, que dizia não ser um deles. O Napoleão (? – não o funileiro, o outro) insistia em se intitular como um “lobisomem” aposentado. Como era velho e tinha vitiligo, nós, simples crianças, chegamos até a acreditar. Dentre várias historietas suas, selecionei uma (do tempo em que o “Cruzeiro” era de pau e mais alto):

“Eu dormi cedo, principalmente porque ameaçava muita chuva. O temporal veio e eu não me apercebi. Quando foi lá pelas onze horas,uma das minhas mãos começa a esfriar e me dar cócegas. Acordo e levanto-me assustado e vejo que minha casa, que fica logo abaixo do Cruzeiro, estava inundada. Saio em desabalada correria morro acima (o pouco “pedaço” que restava). Lá de cima, me dou conta que o temporal foi pior do que se previa. Eu comecei a me preocupar mais porque a chuva persistia e as águas continuavam a subir. Quando elas começaram a molhar os meus pés, não me restou outra alternativa que não subir no Cruzeiro. Lá de cima, eu tentava ver alguma coisa lá em baixo. Nada! Eu, lá na pontinha... entretanto, as águas já tocavam novamente os meus pés. Vou morrer! Mas ocorreu um milagre – a chuva parou e as águas baixaram rapidamente. Eu voltei a dormir. Pela manhã, desci o morro e perguntei a várias pessoas como elas se portaram diante do “dilúvio”. Todas respondiam que foi muita chuva mas que conseguiram controlar as águas”

Como ele sempre voltava à historieta, mudei para outro contador de histórias, lá na Praça do Redentor, no final da Rua do Sapo. O Paulo, ex-BANERJ (antes de ir pra lá) e irmão do Batistão, ex-CREDIREAL, só contava casos de fantasmas. E pra chegar em casa? Correria pelo meio da rua.

Recentemente, ao voltar da casa do sogro do meu filho – a visitar as netas que aqui moram, resolvo fotografar os “tachões” entre Chapéu de Sol e Atafona, para subsidiar minhas crônicas sobre o “possível” asfaltamento das ruas centrais de Miracema. Eram 19h30min. Eis que, para minha surpresa, “algo” se manifesta contra o meu propósito. Os “fantasmas” de Atafona. As fotos são perturbadoras. Ainda bem que eles são de boa paz! Desci do carro e aspirei o ar e esperei por eles – que não vieram.

Mas, em Miracema... não sei, não!

MORAL: Não vou mais pedir um paralelepípedo; mas deixarei no ar: Miracemenses: provavelmente, vocês terão fantasmagóricos “tachões” no asfalto das suas vidas.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

MIRACEMA DE ONTEM E DE HOJE - CARNAVAL LUNÁTICO







(20.07.1969) - "Este é um pequeno passo para o Homem mas um salto gigantesco para a Humanidade". O Homem acabava de “chegar” à “Lua”. Alguns, até hoje não acreditam. Sob o aspecto filosófico da “Teoria da Conspiração”, outros afirmam ter sido a maior fraude do século.

(Carnaval de Miracema) - O Zé “Faca”, considerado o maior carnavalesco de Miracema, era bem humorado nas suas mirabolantes idéias de fantasias. Eu o acompanhei na década de 60. Já saiu de terno e maleta brancos, com dizeres que misturavam Medicina e Política. De outra vez, “estacionou” em frente ao Bar Central (hoje Miragás), do Homero Alvim, uma miniatura de caixão (à época, o Chiquinho Gama e o Álvaro Gonçalves fabricavam caixões para “pobres” e “indigentes” que não eram de tábuas e sim de largas ripas cobertas com um tecido roxo com desenhos dourados - eram até bonitos – será?); e nela pregou uma placa: “Taxi”.

A música “Aqui tens a chave do meu barracão”, cantada por Orlando Dias, inspirou o “Manel Badeco”. Como era grande marceneiro – ele deve se lembrar disso - fez um barracão com uma chave enorme em cima de um caminhão (acho que era do Lelei do Pida). Uma mesa no centro da carroceria abrigava as mais diversas bebidas e especiarias.

(Carnaval de Miracema, em 1970) - Mas, dentre tantas outras (sejam de um ou de outro), por certo, a melhor criação foi em homenagem à “conquista lunar”: No mesmo caminhão, o “Manel Badeco” conseguiu reproduzir o que muito se parecia com um foguete (módulo de comando Columbia). Rodaram toda a cidade, de bar em bar. Os “maduros astronautas” desciam de uma escadinha à procura de reabastecimento. Não vou declinar os nomes, pois, com certeza, vou cometer algum esquecimento. Mas sobre como eles se vestiam, eu digo: “Estavam de saiotes e bustiês em chita de tom verde-azulado e lenços na cabeça (a imitar os capacetes). O mais inusitado, porém, era a imitação dos tanques de oxigênio: frascos plásticos de soro (daqueles hospitalares) cheios de cachaça e seus equipos (mangueirinhas) pelos quais eles “respiravam” (na verdade, bebiam – e como!).

As sonoras campânulas faziam todos fremir com as músicas carnavalescas e, por vezes, anunciava “o Homem na Lua”. Não houve quem não chegasse à porta ou à janela para deliciar-se com o espetáculo. Não raro era ver formar-se um cortejo, que se adensava com a “Turma do Fogaréu”.

Quantas coisas interessantes esses olhos (paralelepípedos) da Rua Direita já viram, não?

MORAL: Não vou mais pedir um paralelepípedo; mas deixarei no ar: Miracemenses: provavelmente, vocês terão muitos “tachões” no asfalto das suas vidas.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

MIRACEMA DE ONTEM E DE HOJE - UM AMOR DENTRO DE UM CARRINHO DE MÃO







Defronte ao Hotel Braga (na curvinha), o “Nefá” (Nafaa Murched El Khoury) tinha sua loja de material de construção e assimilados. Tinha até “carrinho de mão”. Eu já trabalhava no Hospital. Eu e minha irmã Neuza Maria. Controlávamos e pagávamos as contas. Inclusive as feitas naquela loja. Até aí tudo bem não fosse o Joel de Oliveira, na virada de 1971 para 1972 (ele estava lá desde que... não sei!).

Normalmente, o Provedor, Dr. Salim Bou-Issa, tinha as pessoas de sua confiança que faziam as compras. Surpreendeu-me a determinação da compra de um “carrinho de mão”??? (já existiam carrinhos por lá).

Lógico, que eu não iria questionar. Entretanto, sapiente e de grande tirocínio, ele observa a minha curiosidade e diz para eu ir àquela loja e pagar à vista e diretamente ao dono, a quem eu conhecia bem.

Lá chegando, efetuo o pagamento contra recibo; ameaço sair, mas... desfiro ao Nefá um olhar sem graça mas... inquisitivo... Ele, que, também, não era nada “bobo”, coça a cabeça, esboça um sorriso diferente e “me sai com essa”:

“Sabe o que é, Bebeto. Eu fui falar com o Salim que o Joel, todos os dias, após fazer seus mandados, ficava a conversar com o carrinho de mão, que estava ali, na calçada. E eu comecei a prestar atenção no que ele dizia:

--Você é lindo!

--Você ainda vai ser meu!

--Você pode me ajudar a trazer leite das vacas para a Cooperativa!

--Eu até durmo junto com você!

--Não vá embora, não! Eu volto amanhã!

“Após beijos e abraços, lá se ia ele, para voltar no dia seguinte. O Salim se comoveu!”

E eu também! Ao chegar de volta ao Hospital, procuro o Joel e lhe dou um abraço bem apertado. Até o final do ano passado, ele ainda estava lá (eu o procurei e o abracei novamente).

Que bom que as criaturas tivessem esse amor pelos objetos.

Quantas coisas esses olhos de paralelepípedos já viram, não?

MORAL: Não vou mais pedir um paralelepípedo; mas deixarei no ar: Miracemenses: provavelmente, vocês terão vários “tachões” no asfalto das suas vidas.

MIRACEMA DE ONTEM E DE HOJE - OLHOS E CORDAS MUSICAIS







No final da Rua Direita (que se dá lá pela Rodoviária), após o pórtico que restou da Fábrica de Tecidos, ainda pode-se ver construções que, no passado, eram galpões que serviam de depósitos à Estação Ferroviária para o que ia ser embarcado nos trens (café, mais tarde, arroz, etc.). Armazenavam também tambores de inflamáveis até que terrível incêndio os projetou aos ares em todas as direções; felizmente, a maioria foi ter no Ribeirão Santo Antônio (pena dele!).

Após a desativação das ferrovias pelo governo JK, os galpões tornaram-se imprestáveis a tal propósito, vindo a servir a outras finalidades.

E uma delas foi gratificante para os jovens emergentes da década de sessenta. Os não tão exigentes ao elitismo. De carteirinha com a inscrição “permanente”, eu tinha acesso aos bailes que angariavam fundos para os desfiles das escolas de samba do Calil e do Jair Polaca.

No Jair: O Gil, que foi bamba na tuba da Banda Sete, já com quase oitenta anos ainda fazia uns “graves”, só que, agora, num contrabaixo elétrico (sempre de paletó, sem gravata, chapéu de feltro e olhos fechados, já que tinha ficado cego). O Romilto(n?) era fantástico, pois era o melhor, exercia um fascínio na guitarra elétrica (dava “nervoso” vê-lo, pois tinha um problema nos olhos que balouçavam de um lado para outro à medida que seus dedos dançavam freneticamente sobre as cordas – também tinha um problema nas pernas, por acidente). O “Farofinha” (desculpe, perdi o nome) era um virtuose no violão; sempre acompanhou os seresteiros da cidade (só que era estrábico – nunca se sabia para onde estava olhando).

No Calil: O Zé Viana, com o seu incrível trompete. O Waldemar no ritmo da bateria (também o fazia na Banda Sete). E o Lula Pimenta (que também ficou cego – mas ainda está conosco).

Empolguei-me com todos eles e, em 1968, montei o conjunto “The Mirashines”, que mudou para “Módulo 5”; o Hélio Nascimento (do Marcellino) o assumiu e alterou para “Hélio e seu Conjunto”. Depois, me afastei: só sei que nesse “movimento”, ninguém teve problemas de “olhos”.

A não ser que, hoje, não consigamos ter olhos para ver os outros “eternos(?)” olhos: os paralelepípedos, que presenciaram, infelizmente , o atropelamento e a morte do “Farofinha”, na curva do rinque.

MORAL: Não vou mais pedir um paralelepípedo; mas deixarei no ar: Miracemenses: provavelmente, vocês terão alguns “tachões” no asfalto das suas vidas.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

MIRACEMA DE ONTEM E DE HOJE - MARATONISTAS INUSITADOS








-- Eles estão vindo. Vamos pegá-los.

-- Ainda não! Deixem eles chegarem mais perto.

-- Mas, Doutor...

-- Eu já disse: vamos esperar. A surpresa é uma arma sempre poderosa.

-- E se eles...

-- Quieto. Eles estão chegando.

Cinco minutos atrás (como nos bons filmes de suspense):

Às portas fechadas do bar do Vavate, após várias inúteis partidas de sinuca e doses sempre úteis de destiladas, era possível, ainda, ouvir o vozerio dos profissionais pinguços de Miracema, liderados pelo Duduca do Alberto Richa e César do Erotides:

-- Quem topa?

-- Quanto vale?

-- Um litro de “Maravilhosa”. Ou de “Guarda-chuva de Pobre”.

-- Confere.

Roupas dobradas nas soleiras do já sonolento bar, eles, todos (oito), desnudos, estavam a apostar corrida pela rua até o Jardim e voltar ao ponto onde se encontravam.

Lá se foram eles. Algumas coisas balançavam. Às duas horas da madrugada, entretanto, a Rua Direita já dormia e ninguém testemunhava.

E voltaram.

Só que na volta...

Acabaram-se os cinco minutos atrás (como nos bons filmes de suspense):

-- Doutor...

--Cale-se! Eles já estão em nossas mãos. Prenda-os.

-- Doutor Expedito, nada fizemos de mal. Estávamos até a praticar uma atividade física.

-- Vão praticá-la melhor na Delegacia. Pessoal: leve-os.

-- Doutor, e nossas roupas?

-- Ora, se vocês delas se abdicaram para a corrida e porque delas não precisam. Vão do jeito que estão.

E lá vai indo a procissão. Sem círio e sem ladainha. O Delegado à frente, um batalhão de pelados (sem saber onde botar a mão) e alguns fardados soldados a carregar as trouxas (de roupas) dos infelizes “maratonistas”.

Ao curvar o final da Rua Direita (que se dá lá pela rodoviária) para a Irineu Sodré, a mente maquiavélica do cachaça está a meditar: “o que vou fazer – preciso bolar alguma coisa, pois, passar a noite enjaulado é o que eu não quero” .

A dez metros da Delegacia, o César Linhares “voa” sobre o balaústre da ponte sobre o Ribeirão Santo Antônio e, das águas, naqueles tempos ainda profusas, desafia o Doutor, que vocifera:“Primo, você não pode fazer isso comigo!” Ao que responde o suposto (mas nem tanto) suicida:“Se você é meu primo, por que me está a me prender?”

O Delegado, já destemperado, determina: “Saiam das minhas vistas e nem pensem em entrar na minha Delegacia. Vocês serão capazes de aprontar alguma pior e complicar minha vida. Pessoal! Devolvam as roupas desses loucos e mande-nos embora. Já!”

O que esses olhos (paralelepípedos) já viram, heim!

PS: Será que o “cara” não escorregou no primeiro quebra-molas de Miracema?

MORAL: Não vou mais pedir um paralelepípedo; mas deixarei no ar – Miracemenses: provavelmente, vocês terão um “tachão” no asfalto das suas vidas.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

REDESCOBRINDO PÉROLAS




SHOW BRASILEIRO NOS E.U.A


(Em dezembro/2000)



Durante um debate em uma Universidade, nos Estados Unidos, o ex-governador do Distrito Federal, CRISTOVAM BUARQUE, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem americano introduziu sua pergunta sobre a internacionalização da Amazônia dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro.

Esta foi a resposta do Sr. Cristovam Buarque:


"De fato, como brasileiro, eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.


Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado.


Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais.


Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo.


O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.


Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos, Mannhatan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.


Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.


Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia.


Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!"

E A PRIMAVERA CHEGOU!




Atafona – 22.09.2009




Hoje chega a primavera. Logo mais, após anoitecer.

Quando amanheceu, o vento já não mais vinha do sul. O sol até mostrava a “cara”.

Infelizmente, precisei ir a Campos. Arre! Difícil conviver novamente com cidadãos urbanos.

Revi amigos, paguei algumas contas e encomendei umas rosas pra minha mulher (era seu aniversário).

Já era noite quando retornei a Atafona.

Enquanto o carro rolava na pista, a diminuir os quilômetros que me separavam do santuário, eu me remexia no banco. Sentia que precisava fazer alguma menção à chegada da nova estação.

O cansaço, porém, me venceu. Não consegui escrever nada.

Nada obstante, retiro dos meus alfarrábios uma curiosidade sobre uma das flores mais bonitas que a Natureza nos proporciona.

As flores do maracujazeiro são hermafroditas, com cinco estames no androceu (parte masculina) e três estiletes no gineceu (parte feminina). Os filetes dos estames estão fortemente unidos à coluna do gineceu formando o androginóforo (andro= masculino; gino= feminino; foro= que apresenta). No alto do filete, existe uma porção dilatada onde acha-se concentrado o pólen. A fecundação somente ocorre pela incursão dos mangangás (aquelas abelhas enormes, que todos têm medo); pois só elas conseguem descer o profundo tubo das flores e transferir o pólen da parte masculina para a parte feminina. Todas essas partes estão dispostas em círculos, formando uma coroa, a que se dá o nome de “corona”.

Bom! Dadas algumas explicações, vamos ao misticismo. A flor do maracujá é tida como a “FLOR-DA-PAIXÃO”, por lembrar, em seus aspectos morfológicos, a “PAIXÃO DE CRISTO”, com seus estigmas:

ð ESTAMES: 5 feridas em Jesus

ð CORONA: 72 filamentos representando a coroa de espinhos

ð ANDROGINÓFORO: Coluna de flagelação -> cravos

ð FOLHA: Em forma de lança (uma das chagas)

ð DORSO DA FOLHA: Pontos redondos -> 30 peças de pratas recebidas por Judas

Na próxima vez que observares uma flor do maracujazeiro, conseguirás vê-la como uma flor comum?

Embora eu não seja um místico, entendo que nossos olhos não vêem a realidade, pois só conseguem “ver” o que queremos ver, o que está cultuado dentro de nós.

QUASE PRIMAVERA




Atafona - 21.09.2009


Tênues e efêmeros raios de luz davam indícios que o sol estava a alfinetar algumas nem tão simpáticas nuvens, como a pedir licença para a preparação do “salão de festas”. Afinal, a “primavera” chegaria no dia seguinte, pouco depois das dezoito horas.

O céu, talvez encabulado com a presença das “meninas de algodão”, não se apresentava tão “azul”.

Os ventos vinham do sul. Não é o que mais gostamos. Incestuosos, trazem poeiras e lixos em redemoinhos, chuvas em tempestade e, quase sempre, sem consentimento, levantam as saias das mulheres.

Entretanto, não é raro ver que eles também modificam as correntes marítimas, empurrando o desaguar das águas do Paraíba para o norte, permitindo-nos ver uma “cor” não comum ao nosso mar. Este não estava pra peixe, nem pra surfista.

Estava “verde”, não aquele da opressão, mas... o da paz, o da natureza. Por alguns minutos, fiquei a fitá-lo. De forma serena e tentando entendê-lo.

Suas ondas se atiravam, com sofreguidão, sobre a praia. As espumas mais se pareciam com braços a envolver o corpo de uma mulher. As areias as recebiam com carinho, mas as devolviam ao seu lugar.

E o “ir e vir” das águas, em harmônico aconchego com as areias, me arremetia a novos encontros ou ensejavam novas visões.

A acontecerem na primavera.

As plantas de “roupas” novas, engalanadas por adereços florais, perfumados e esmeradamente coloridos, atrairão pássaros e insetos, que, em estreita simbiose, retribuirão a dádiva do néctar com a polinização dos nubentes. Alguns destes conseguirão conceber novas vidas, que nos darão um pouco mais de vida com o seu oxigênio.

Que venha a “PRIMAVERA!

PS: Não se prendam à instituição do “Dia da Árvore”, plante uma todo dia que puder.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

MIRACEMA DE MAIO

Texto recuperado (depois do apagão) - Cadê as fotos? (posto depois, se achar!)


Passagem de abril para maio.

Miracema linda (como sempre) e em festa (como sempre)!

Eu fui lá. Por certo!

Mas...

...não a vi.

Não a cidade,...

...a festa.

Também, também, não precisava.

Por quê? Destarte certas primazias, como a de ver conterrâneos contemporâneos, que lá só vão em ocasiões especiais, a minha “Terrinha” me comporta. Sempre.

Com certeza, não vou enumerar nem nomear os meus encontros e desencontros. Nem minhas preferências ou minhas mazelas (?) miracemenses.

Preferências são ótimas; no meu caso, em maioria.

Mazelas: “deixa pra lá” – “minoria”. Ignorâmo-las.

Fui “passar” três dias e “fiquei” quatorze. Direto.

Lindo! Com MAMÃE e meus irmãos André Xoxô e Juninho (mais os “agregados”). Três dias no sítio do André (tenho a impressão que ainda não tem nome – é lá pros lados do São Sebastião dos Pelados – Flores). Lua cheia no descampado, mais a visão da “passeata” da estação orbital (que eu tanto procurava). Pica-pau a nos acordar. Fogão de lenha (MAMÃE ainda é mister na técnica) a nos trazer angu, feijão preto, arrozinho branco, café preto (embora eu não use há 27 anos) e os bifes de porco. Sem falar nas bananas assadas na chapa.

Ou você não tem mãe (infelizmente) ou ela (se ainda viva) faz para os descendentes o melhor que a vida lhe ensinou.

Buzinas, nem pensar. E aqueles sons (?) dos idiotas que gastam fortunas para os outros ouvirem (?) também não se ouviam. Paz! Eternidade quase eterna (?).

Faltava o Carlinhos Moreira (um dos melhores da cidade! – em todos os tempos - músico, compositor e maestro ímpar).

Balancei, por certo. As roupas limpas acabavam e eu ainda me entretinha.

Parecia, por vez, que eu estava a me despedir. Já que me encontrei com o “passado”: Geneci Pestana (acho que me beijou trinta e oito vezes como apresentação de “ele é meu primo” – emoções e choros à parte, no bar do Julberto), Vicente Toscano (ex-parceiro do BANERJ), Zé Amim (motorista de quando eu me instituí de professor de Português (quem dera?) em Paraíso do Tobias (idos de 1971, com o Prefeito Nilo Lomba), o chafariz da Dr. Temístocles, Luizinho (e irmãos) do Sr. Manoel Santos, Joaquim da dona Judite (Celso, seu irmão, fez minha barba – na verdade, seu filho), Iaiá do Belo, o Asilo dos Pobres, Cidinho do Sr. Ita, Pidinho (grande feijoada a mim ofertada), Erotides Linhares, Eli Feijó e Candinho, Tabaco; “péra aí” – seu eu for relatar meu histórico de Miracema não vamos conseguir acompanhar tudo?!

Pena que eu não tenha visto certos personagens: Carlos Augusto (do Dr. Ururaí), Angeline, Sandra Valeriote ( S. J. de Ubá), João do Ulisses, entre outros, que, por certo, estavam ou estiveram lá.

Dona Lola (viúva do Sr. Arlindo Azevedo), no alto dos seus “oitenta anos” resgatava minha infância a relembrar a “Mãezona” que ela foi pra mim (lembrei dos “ovos estrelados’ mais lindos que já vi em minha vida – em seu fogão de lenha e frigideira de ferro).

Não fosse o apelo da minha mulher em Campos a se apavorar com vizinhanças vis a denunciar possíveis focos de dengue (não constatados, por certo), na minha casa desocupada, eu ainda estaria procurando minhas histórias ou meus desígnios.

Erasmo: obrigado por me permitires descobrir nuances da rua que nasci e que vou relatar no capítulo do “Logradouros de Miracema” : Dr. Temístocles.

O meu carro/casa reclamava: “não sei onde estou”. Mas eu insistia. O ex-Mercado Municipal (das lingüiças e chouriços) era/é meu ponto principal. Lá, no Box do Tenga, encontro o prazer de estar com o Pelé, com o Monteirinho, o Zé Maria, o Antônio Carlos, o Ademir Pombinho, o Zamir Frazão, o Alamir (campista), o Paulo Nolasco – ihhh! Caraca! Se eu vou dizer todos os meus “prazeres” vai ser difícil.

Revi alguns parentes, outros, não.

Sem declinar nomes, a “minha” Miracema continua “demais”! Muito!

Volto a Atafona. A contragosto, no momento. Quando tornar a Miracema, será também a contragosto, de início.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

NUVENS ENTRE NUVENS

Por quem as nuvens dobram?


De: Bebeto Alvim



-- Nimbo, por que ejetas tanta energia em ti? Pra que tudo isso?

-- Cúmulo, eu preciso do Poder.

-- Poder sobre quem?

-- Ora, sobre os que estão lá embaixo. Apoiada pelos meus aliados - os ululantes ventos, os poderosos e aterradores raios e o ribombar dos trovões - mostrar-lhes-ei o meu Poder.

-- E por que achas que deves fazer tal demonstração de força?

-- Porque eu preciso instigar o meu íntimo, (o meu veneno, sem ele eu não vivo!). De mais a mais, eles são frágeis: física e mentalmente! Não merecem consideração.

-- Se assim o são, deixe-os em Paz.

-- Vá dar a tua voltinha, Cúmulo.

-- Até logo, prima! Qualquer dia, eu volto.

E a Cúmulo se foi, e em Paz! A leve brisa a levou. Em céu azul, transportou-se tal qual algodão no vento. Branquinha e bem meiga. Por entre “brasis!” e mundo afora.

Já a sua desnaturada e cinzenta parenta aprontou: fez descer seus insensatos filhos que, voluptuosamente, em destruidor desejo, na forma de tempestade, desbancaram encostas, transbordaram rios, inundaram planícies. Ainda, invadiram residências de ricos e pobres, mataram animais e abortaram proveitosas colheitas; por isso, espalharam a fome, a miséria e o infortúnio. Permitiram que os rapaces disso se aproveitassem.

Porém esgotou-se.

Algum tempo após, Cúmulo, ainda branquinha e ainda com a doçura de um algodão-doce, encontra a prima, exânime, a soluçar:

-- Prima, ajuda-me, estou sem forças!

E a bondosa nuvenzinha:

-- O que aconteceu?

-- Gastei minhas energias.

-- Em quê?

–- Na minha demonstração de força.

–- Oh, prima! Que pena! Posso te passar algumas reservas minhas.

-- As tuas não satisfarão as minhas necessidades. Elas são muito magnânimas.

E nos “braços” da prima, balbucia em seu estertor:

-- Estou morrendo!