UMA FUGAZ HISTÓRIA DE MIRACEMA
O professor Osmar Barbosa (lexicólogo, gramático, escritor e poeta), com quem tive, ainda criança, a honra e o prazer de dividir a rua Dr. Temístocles, em Miracema-RJ, é autor de uma invejável obra literária no Brasil, com vários livros publicados em várias editoras (a Ediouro é uma delas). Enquanto lecionava na pequena, pacata e interessante Miracema, publicou dois livros de bolso de poesia, editados na Gráfica Normalista:Para as mãos de meu amor e Eis aqui meu coração (não constantes de catálogos, infelizmente).
Foi na ocasião que o Mestre criou, com toda a sua sapiência, esta maravilha de trova:
Saudade mata é verdade
Mas desta morte me esquivo
Como morrer de saudade
Se é de saudade que vivo
Embora embevecidos com a beleza da criação, os “interpretadores-de-texto” de plantão logo se arvoram a vaticinar:
“Quis dizer de uma amada sua que partiu para cima e ele a enleva com versos encimados por palavra que somente existe no português do Brasil”
E vão por aí as demais interpretações; todas, porém, referem-se ao título como sendo o sentimento abstrato de profundo pesar de perda.
Mal sabem eles, entretanto, da grande verdade, testemunhada, inclusive, pelo meu dileto amigo e conterrâneo, Adilson Dutra (também mestre da palavra e que, à época, trabalhava na gráfica, ainda existente):
Existia uma fabriqueta de xaropes para refrescos e de bebidas alcoólicas destiladas, de propriedade do Saliba Felix. O professor, talvez em busca de inspiração ou de simples relaxamento, se aventurava em algumas oportunidades na degustação de alguns goles da cachaça fabricada pelo amigo Saliba.
Pasmem, aí, os “interpretadores”!...
A simples, comovente e bonitinha trovinha não queria se referir à SAUDADE abstrata e sim à concreta e saborosa pinga do alambique do Saliba, que se chamava... SAUDADE!
Cachaça mata é verdade
Mas desta morte me esquivo
Como morrer de cachaça
Se é de cachaça que vivo
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