quarta-feira, 26 de maio de 2010

TODO MUNDO LOUCO, OBA!

Dos Goytacazes aos Puris

Precisei deixar Atafona, por algum tempo, para curtir minha mãe no seu dia. Carregava já, com a saudade, a tristeza. Tristeza por ver suas últimas ruas mais próximas à orla arcar o peso dos quentes e indiferentes paralelepípedos. Como ir ao mar (que se fazia andando, descalço) sem sentir a energia do tépido caminho de terra e fina camada de areia transportada pelo vento nordeste? Nada contra o calçamento da parte interior do lugarejo, onde existem moradores permanentes e áreas de serviço e comércio; entretanto, aqueles que, por comodidade (preguiça, talvez), preferiram ter suas residências mais próximas das águas deveriam suportar o ônus da poeira ou da lama. Preservar-se-ia, então, a naturalidade da localidade.

Mas todos batem palmas.

Assim, deixei Atafoninha dos Goytacazes e me dirigi à Miraceminha dos Puris. Sabia, de antemão, que o clima lá não estaria muito propício às minhas convicções. A verba já estava à disposição para o asfaltamento de várias ruas da idade. Vão cobrir os já saudosos paralelepípedos. Que pena!... Poderão perguntar: “Você não quer os paralelepípedos em Atafona mas os defende em Miracema?”

Lugar de terra de chão é na roça ou na praia; lugar de paralelepípedo é na cidade; lugar de asfalto é na estrada.

Lá chegando, soube da triste consumação: o asfalto já era uma realidade. Também não fui para “brigar” pela minha preferência. Ademais, já havia encerrado a minha participação no movimento contrário ao procedimento. Estava conformado. Meus amigos e parceiros argumentavam: “Concordo com você no tocante ao ambientalismo, porém há de se convir que as ruas estão quase intransitáveis pelos buracos e desníveis – e você não mora mais aqui para sofrer com isso.” Contra-argumentei: “Que sejam retirados os paralelepípedos e recolocados de forma adequada.” E a tréplica veio: Não existem mais calceteiros (profissionais que calçam as ruas).”

Tomara que, entre outros, não morram médicos, pedreiros, agricultores, pois, se assim ocorrer, os moradores da Terrinha, provavelmente, morrerão de doenças da saúde, de falta de teto ou de falta de comida.

É mais barato e confortável cobrir, no sentido de encobrir, a incompetência de gerir do que adotar medidas coercitivas contra os incapazes.

A Natureza não vai agradecer.

Quanto ao fato de não se morar na cidade, pergunto: “Quem é mais Miracemense? Quem aí ficou? Quem fincou raízes e ficou estático, ainda que realizando suas obras? Não vale ser Miracemense e sair em busca de horizontes não possíveis na “Terrinha”? Existiria a Salgueiro sem o Calçalarga? E a revista Realidade e o Fantástico sem o José Itamar de Freitas? Conseguiria o Brasil ser Campeão do Mundo de 1962 sem o Aimoré Moreira? Atualmente, a Fátima Castro faz um excelente trabalho, em Campos, na condução da “Casa Irmãos da Solidariedade”, que abriga os portadores do HIV.

Não moro em Miracema, mas Miracema mora em meu coração. Nunca estive longe dela.

Por quem mais choro: a agredida mas ainda querida Miracema ou a não tão bucólica mas ainda prazerosa Atafona.

Pelas duas, por certo.

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