quarta-feira, 26 de maio de 2010

TODO MUNDO LOUCO, OBA! II

O preto que satisfaz

Complementando comentários sobre o asfaltamento das ruas de Miracema, observava-se que o clima no final de semana do “Dia das Mães” foi atípico.

Era de uma euforia exacerbada.

O povo da “Terrinha” estava em êxtase (parecia “ecstasyado”, que é a mesma coisa – entretanto, vale a conotação).

Motivo: A Rua do Café foi asfaltada (quase que completamente).

Não se falava em outra coisa. Esqueceram até o “Dia das Mães”!

“Vamos fazer um churrasco em comemoração.” “E vamos soltar fogos.” “Sem esquecer a passeata.”

Cético, no meu lugar de sempre, fiquei.

Mas soube dos acontecimentos.

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A rua parecia estar em quermesse.

O céu azul, descoberto (é lógico), deixava transparecer o sol quente.

Apareceram os ambulantes. Primeiro, os sorveteiros, pela solama. Após, os pipoqueiros. Também se fizeram presentes os carrinhos de cachorro-quente, de churros, de amendoim e de milho verde. Alguns outros traziam churrasqueiras portáteis. Para alegrar as crianças, surgiram os vendedores de algodão-doce e de balões de gás. Faixas e cartazes foram trazidos pelas miracemetes, com seus curtos saiotes e alegorias de mão. Os rojões pipocavam nos ares.

Que festa!

O preto do asfalto sobrepujava o cinza dos paralelepípedos, contrastando com o colorido das casas. Estas exibiam, em suas janelas, toalhinhas de crochê, tal qual nas festas juninas. E os moradores aplaudiam as pessoas que por elas passavam. Não as da passeata, pois esta não houve. Era a população que, ante a novidade, para lá se deslocava, ávida de curiosidade. Por sorte, não aconteceu nenhuma emergência que justificasse sirenes abertas de ambulâncias a transportar, com urgência, alguém ao hospital. Tinha gente querendo até patrocinar guarda de trânsito (com farda verde-amarela, coturno, apito e quepe)

E me pus a pensar: “O que é isso?”

Aí, capitulei.

Mamãe insistia que eu ficasse mais alguns dias. Nada obstante, me vou da Miraceminha dos Puris. Com o pensamento que algo de valia talvez tenha ocorrido para os meus conterrâneos:

“Deixem que o inusitado permita a essas incautas criaturas curtir o que ainda não conhecem e que desconhecem o porvir.”

Não serve para mim. Não me apetece. Já conheço de sobra as conseqüências.

Em Atafoninha dos Goytacazes, olharei para o céu e adentrarei nas suas praias, com a certeza que estas jamais receberão outro piso que não seja aquele formado por areias trazidas pelas águas do rio e do mar.

Sem olhar para trás, para não sentir saudade ou tristeza.

Ao contrário de lá, com o betume a cobrir a beleza da História, aqui o óxido de bório mistura-se às areias e nos traz o preto que satisfaz.

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