quarta-feira, 30 de setembro de 2009

MIRACEMA DE ONTEM E DE HOJE - MARATONISTAS INUSITADOS








-- Eles estão vindo. Vamos pegá-los.

-- Ainda não! Deixem eles chegarem mais perto.

-- Mas, Doutor...

-- Eu já disse: vamos esperar. A surpresa é uma arma sempre poderosa.

-- E se eles...

-- Quieto. Eles estão chegando.

Cinco minutos atrás (como nos bons filmes de suspense):

Às portas fechadas do bar do Vavate, após várias inúteis partidas de sinuca e doses sempre úteis de destiladas, era possível, ainda, ouvir o vozerio dos profissionais pinguços de Miracema, liderados pelo Duduca do Alberto Richa e César do Erotides:

-- Quem topa?

-- Quanto vale?

-- Um litro de “Maravilhosa”. Ou de “Guarda-chuva de Pobre”.

-- Confere.

Roupas dobradas nas soleiras do já sonolento bar, eles, todos (oito), desnudos, estavam a apostar corrida pela rua até o Jardim e voltar ao ponto onde se encontravam.

Lá se foram eles. Algumas coisas balançavam. Às duas horas da madrugada, entretanto, a Rua Direita já dormia e ninguém testemunhava.

E voltaram.

Só que na volta...

Acabaram-se os cinco minutos atrás (como nos bons filmes de suspense):

-- Doutor...

--Cale-se! Eles já estão em nossas mãos. Prenda-os.

-- Doutor Expedito, nada fizemos de mal. Estávamos até a praticar uma atividade física.

-- Vão praticá-la melhor na Delegacia. Pessoal: leve-os.

-- Doutor, e nossas roupas?

-- Ora, se vocês delas se abdicaram para a corrida e porque delas não precisam. Vão do jeito que estão.

E lá vai indo a procissão. Sem círio e sem ladainha. O Delegado à frente, um batalhão de pelados (sem saber onde botar a mão) e alguns fardados soldados a carregar as trouxas (de roupas) dos infelizes “maratonistas”.

Ao curvar o final da Rua Direita (que se dá lá pela rodoviária) para a Irineu Sodré, a mente maquiavélica do cachaça está a meditar: “o que vou fazer – preciso bolar alguma coisa, pois, passar a noite enjaulado é o que eu não quero” .

A dez metros da Delegacia, o César Linhares “voa” sobre o balaústre da ponte sobre o Ribeirão Santo Antônio e, das águas, naqueles tempos ainda profusas, desafia o Doutor, que vocifera:“Primo, você não pode fazer isso comigo!” Ao que responde o suposto (mas nem tanto) suicida:“Se você é meu primo, por que me está a me prender?”

O Delegado, já destemperado, determina: “Saiam das minhas vistas e nem pensem em entrar na minha Delegacia. Vocês serão capazes de aprontar alguma pior e complicar minha vida. Pessoal! Devolvam as roupas desses loucos e mande-nos embora. Já!”

O que esses olhos (paralelepípedos) já viram, heim!

PS: Será que o “cara” não escorregou no primeiro quebra-molas de Miracema?

MORAL: Não vou mais pedir um paralelepípedo; mas deixarei no ar – Miracemenses: provavelmente, vocês terão um “tachão” no asfalto das suas vidas.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

REDESCOBRINDO PÉROLAS




SHOW BRASILEIRO NOS E.U.A


(Em dezembro/2000)



Durante um debate em uma Universidade, nos Estados Unidos, o ex-governador do Distrito Federal, CRISTOVAM BUARQUE, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem americano introduziu sua pergunta sobre a internacionalização da Amazônia dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro.

Esta foi a resposta do Sr. Cristovam Buarque:


"De fato, como brasileiro, eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.


Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado.


Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais.


Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo.


O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.


Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos, Mannhatan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.


Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.


Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia.


Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!"

E A PRIMAVERA CHEGOU!




Atafona – 22.09.2009




Hoje chega a primavera. Logo mais, após anoitecer.

Quando amanheceu, o vento já não mais vinha do sul. O sol até mostrava a “cara”.

Infelizmente, precisei ir a Campos. Arre! Difícil conviver novamente com cidadãos urbanos.

Revi amigos, paguei algumas contas e encomendei umas rosas pra minha mulher (era seu aniversário).

Já era noite quando retornei a Atafona.

Enquanto o carro rolava na pista, a diminuir os quilômetros que me separavam do santuário, eu me remexia no banco. Sentia que precisava fazer alguma menção à chegada da nova estação.

O cansaço, porém, me venceu. Não consegui escrever nada.

Nada obstante, retiro dos meus alfarrábios uma curiosidade sobre uma das flores mais bonitas que a Natureza nos proporciona.

As flores do maracujazeiro são hermafroditas, com cinco estames no androceu (parte masculina) e três estiletes no gineceu (parte feminina). Os filetes dos estames estão fortemente unidos à coluna do gineceu formando o androginóforo (andro= masculino; gino= feminino; foro= que apresenta). No alto do filete, existe uma porção dilatada onde acha-se concentrado o pólen. A fecundação somente ocorre pela incursão dos mangangás (aquelas abelhas enormes, que todos têm medo); pois só elas conseguem descer o profundo tubo das flores e transferir o pólen da parte masculina para a parte feminina. Todas essas partes estão dispostas em círculos, formando uma coroa, a que se dá o nome de “corona”.

Bom! Dadas algumas explicações, vamos ao misticismo. A flor do maracujá é tida como a “FLOR-DA-PAIXÃO”, por lembrar, em seus aspectos morfológicos, a “PAIXÃO DE CRISTO”, com seus estigmas:

ð ESTAMES: 5 feridas em Jesus

ð CORONA: 72 filamentos representando a coroa de espinhos

ð ANDROGINÓFORO: Coluna de flagelação -> cravos

ð FOLHA: Em forma de lança (uma das chagas)

ð DORSO DA FOLHA: Pontos redondos -> 30 peças de pratas recebidas por Judas

Na próxima vez que observares uma flor do maracujazeiro, conseguirás vê-la como uma flor comum?

Embora eu não seja um místico, entendo que nossos olhos não vêem a realidade, pois só conseguem “ver” o que queremos ver, o que está cultuado dentro de nós.

QUASE PRIMAVERA




Atafona - 21.09.2009


Tênues e efêmeros raios de luz davam indícios que o sol estava a alfinetar algumas nem tão simpáticas nuvens, como a pedir licença para a preparação do “salão de festas”. Afinal, a “primavera” chegaria no dia seguinte, pouco depois das dezoito horas.

O céu, talvez encabulado com a presença das “meninas de algodão”, não se apresentava tão “azul”.

Os ventos vinham do sul. Não é o que mais gostamos. Incestuosos, trazem poeiras e lixos em redemoinhos, chuvas em tempestade e, quase sempre, sem consentimento, levantam as saias das mulheres.

Entretanto, não é raro ver que eles também modificam as correntes marítimas, empurrando o desaguar das águas do Paraíba para o norte, permitindo-nos ver uma “cor” não comum ao nosso mar. Este não estava pra peixe, nem pra surfista.

Estava “verde”, não aquele da opressão, mas... o da paz, o da natureza. Por alguns minutos, fiquei a fitá-lo. De forma serena e tentando entendê-lo.

Suas ondas se atiravam, com sofreguidão, sobre a praia. As espumas mais se pareciam com braços a envolver o corpo de uma mulher. As areias as recebiam com carinho, mas as devolviam ao seu lugar.

E o “ir e vir” das águas, em harmônico aconchego com as areias, me arremetia a novos encontros ou ensejavam novas visões.

A acontecerem na primavera.

As plantas de “roupas” novas, engalanadas por adereços florais, perfumados e esmeradamente coloridos, atrairão pássaros e insetos, que, em estreita simbiose, retribuirão a dádiva do néctar com a polinização dos nubentes. Alguns destes conseguirão conceber novas vidas, que nos darão um pouco mais de vida com o seu oxigênio.

Que venha a “PRIMAVERA!

PS: Não se prendam à instituição do “Dia da Árvore”, plante uma todo dia que puder.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

MIRACEMA DE MAIO

Texto recuperado (depois do apagão) - Cadê as fotos? (posto depois, se achar!)


Passagem de abril para maio.

Miracema linda (como sempre) e em festa (como sempre)!

Eu fui lá. Por certo!

Mas...

...não a vi.

Não a cidade,...

...a festa.

Também, também, não precisava.

Por quê? Destarte certas primazias, como a de ver conterrâneos contemporâneos, que lá só vão em ocasiões especiais, a minha “Terrinha” me comporta. Sempre.

Com certeza, não vou enumerar nem nomear os meus encontros e desencontros. Nem minhas preferências ou minhas mazelas (?) miracemenses.

Preferências são ótimas; no meu caso, em maioria.

Mazelas: “deixa pra lá” – “minoria”. Ignorâmo-las.

Fui “passar” três dias e “fiquei” quatorze. Direto.

Lindo! Com MAMÃE e meus irmãos André Xoxô e Juninho (mais os “agregados”). Três dias no sítio do André (tenho a impressão que ainda não tem nome – é lá pros lados do São Sebastião dos Pelados – Flores). Lua cheia no descampado, mais a visão da “passeata” da estação orbital (que eu tanto procurava). Pica-pau a nos acordar. Fogão de lenha (MAMÃE ainda é mister na técnica) a nos trazer angu, feijão preto, arrozinho branco, café preto (embora eu não use há 27 anos) e os bifes de porco. Sem falar nas bananas assadas na chapa.

Ou você não tem mãe (infelizmente) ou ela (se ainda viva) faz para os descendentes o melhor que a vida lhe ensinou.

Buzinas, nem pensar. E aqueles sons (?) dos idiotas que gastam fortunas para os outros ouvirem (?) também não se ouviam. Paz! Eternidade quase eterna (?).

Faltava o Carlinhos Moreira (um dos melhores da cidade! – em todos os tempos - músico, compositor e maestro ímpar).

Balancei, por certo. As roupas limpas acabavam e eu ainda me entretinha.

Parecia, por vez, que eu estava a me despedir. Já que me encontrei com o “passado”: Geneci Pestana (acho que me beijou trinta e oito vezes como apresentação de “ele é meu primo” – emoções e choros à parte, no bar do Julberto), Vicente Toscano (ex-parceiro do BANERJ), Zé Amim (motorista de quando eu me instituí de professor de Português (quem dera?) em Paraíso do Tobias (idos de 1971, com o Prefeito Nilo Lomba), o chafariz da Dr. Temístocles, Luizinho (e irmãos) do Sr. Manoel Santos, Joaquim da dona Judite (Celso, seu irmão, fez minha barba – na verdade, seu filho), Iaiá do Belo, o Asilo dos Pobres, Cidinho do Sr. Ita, Pidinho (grande feijoada a mim ofertada), Erotides Linhares, Eli Feijó e Candinho, Tabaco; “péra aí” – seu eu for relatar meu histórico de Miracema não vamos conseguir acompanhar tudo?!

Pena que eu não tenha visto certos personagens: Carlos Augusto (do Dr. Ururaí), Angeline, Sandra Valeriote ( S. J. de Ubá), João do Ulisses, entre outros, que, por certo, estavam ou estiveram lá.

Dona Lola (viúva do Sr. Arlindo Azevedo), no alto dos seus “oitenta anos” resgatava minha infância a relembrar a “Mãezona” que ela foi pra mim (lembrei dos “ovos estrelados’ mais lindos que já vi em minha vida – em seu fogão de lenha e frigideira de ferro).

Não fosse o apelo da minha mulher em Campos a se apavorar com vizinhanças vis a denunciar possíveis focos de dengue (não constatados, por certo), na minha casa desocupada, eu ainda estaria procurando minhas histórias ou meus desígnios.

Erasmo: obrigado por me permitires descobrir nuances da rua que nasci e que vou relatar no capítulo do “Logradouros de Miracema” : Dr. Temístocles.

O meu carro/casa reclamava: “não sei onde estou”. Mas eu insistia. O ex-Mercado Municipal (das lingüiças e chouriços) era/é meu ponto principal. Lá, no Box do Tenga, encontro o prazer de estar com o Pelé, com o Monteirinho, o Zé Maria, o Antônio Carlos, o Ademir Pombinho, o Zamir Frazão, o Alamir (campista), o Paulo Nolasco – ihhh! Caraca! Se eu vou dizer todos os meus “prazeres” vai ser difícil.

Revi alguns parentes, outros, não.

Sem declinar nomes, a “minha” Miracema continua “demais”! Muito!

Volto a Atafona. A contragosto, no momento. Quando tornar a Miracema, será também a contragosto, de início.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

NUVENS ENTRE NUVENS

Por quem as nuvens dobram?


De: Bebeto Alvim



-- Nimbo, por que ejetas tanta energia em ti? Pra que tudo isso?

-- Cúmulo, eu preciso do Poder.

-- Poder sobre quem?

-- Ora, sobre os que estão lá embaixo. Apoiada pelos meus aliados - os ululantes ventos, os poderosos e aterradores raios e o ribombar dos trovões - mostrar-lhes-ei o meu Poder.

-- E por que achas que deves fazer tal demonstração de força?

-- Porque eu preciso instigar o meu íntimo, (o meu veneno, sem ele eu não vivo!). De mais a mais, eles são frágeis: física e mentalmente! Não merecem consideração.

-- Se assim o são, deixe-os em Paz.

-- Vá dar a tua voltinha, Cúmulo.

-- Até logo, prima! Qualquer dia, eu volto.

E a Cúmulo se foi, e em Paz! A leve brisa a levou. Em céu azul, transportou-se tal qual algodão no vento. Branquinha e bem meiga. Por entre “brasis!” e mundo afora.

Já a sua desnaturada e cinzenta parenta aprontou: fez descer seus insensatos filhos que, voluptuosamente, em destruidor desejo, na forma de tempestade, desbancaram encostas, transbordaram rios, inundaram planícies. Ainda, invadiram residências de ricos e pobres, mataram animais e abortaram proveitosas colheitas; por isso, espalharam a fome, a miséria e o infortúnio. Permitiram que os rapaces disso se aproveitassem.

Porém esgotou-se.

Algum tempo após, Cúmulo, ainda branquinha e ainda com a doçura de um algodão-doce, encontra a prima, exânime, a soluçar:

-- Prima, ajuda-me, estou sem forças!

E a bondosa nuvenzinha:

-- O que aconteceu?

-- Gastei minhas energias.

-- Em quê?

–- Na minha demonstração de força.

–- Oh, prima! Que pena! Posso te passar algumas reservas minhas.

-- As tuas não satisfarão as minhas necessidades. Elas são muito magnânimas.

E nos “braços” da prima, balbucia em seu estertor:

-- Estou morrendo!

SUPERMERCADO DE ÓRGÃOS

Sobre minha afirmação “Viver até os sessenta anos é o suficiente”, perguntam-me: “E agora, que faltam três anos, você não se arrepende de sua afirmação?” Não. Se tivesse eu a certeza de poder continuar impondo ao meu corpo o castigo a que ele é submetido na busca incessante do prazer sem limite, talvez eu repensasse. Quem sabe talvez a criogenização? Voltaria após cinquenta anos e compraria uns três fígados e uns dois estômagos de vez. A propósito, transcrevo uma crônica de Mário de Moraes, publicada na revista O Cruzeiro, em 1.8.1964.

NA BASE DO ANO 2000

Passo por um cinema e o nome do filme, que fala em mercado de corações, lembra-me um outro que vi há muito tempo, e que, com este, tenho a certeza, não tem nenhuma relação.

Mais de vinte anos são passados, desde a sua exibição. Mostrava, creio, o século vinte e um. Época em que o pobre vivente, padecente de muitos males, poderia trocar, a seu bel-prazer, as partes gastas e enferrujadas do seu humano organismo. Lembro-me de um sujeito americano alto e avermelhado, que ia à procura de excelente coração, que o seu já estava pifado. E da velhota que buscava um fígado novo em folha, para substituir o antigo, gasto pelo uso, procurando, entre vários, o mais adequado ao seu tipo.

Leio os jornais e revistas deste presente sessenta quatro. E neles encontro muita realidade que não está longe daquela ficção. No Japão trocam o rim doente de um enfermo por igual órgão sei lá de que animal. Num país, colocam outro braço num acidentado.

Solto as rédeas da imaginação e vejo um supermercado, onde não faltam desde os melhores dedões do pé a bem refinados cérebros. E imagino algumas cenas. A pobre e desiludida mocinha, que recém levara um fora do namorado, sentindo destroçado o coração, junto ao balcão correspondente:

“A senhorita não teria, por aí, um coração para moça de dezenove anos? Daqueles que não estão sujeitos a paixonites?”

Vejo Mané Garrincha, meio encabulado, escondendo-se dos fãs, a procurar, numa pilha, um novo e sem problemas joelho direito. E a manchete, no dia seguinte, nas páginas esportivas:

“Garricha estreou joelho novo.”

Certos cronistas, de imaginação desgastada, a procurar afobados:

“Não terá aí um cérebro bem moderno, daqueles cheios de idéias? Mas, por favor, eu tenho pressa! Preciso usá-lo ainda hoje, quando for escrever o meu artigo.”

Chego a ver Leônidas, de molejo novo, a pedir vaga no selecionado brasileiro, afirmando convicto:

“E agora, Feola, o que o Vavá tem que eu não tenho?”

E seriam naturais diálogos como este:

“Você viu como subiu o preço do estômago? E a vesícula? Anda pela hora da morte.

E olha, já não se fazem narizes como os de antigamente. A inflação, por certo, influiria no preço dos artigos.”

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

PRIMOS

Na Matemática, são considerados primos os números naturais que possuem apenas dois divisores diferentes (o 1 e ele mesmo). O nº 1 não é primo, pois não tem dois divisores. A partir do nº 2 (que é divisível por 1 e por ele mesmo), passa-se a ter a escala de números primos. Vai por aí. Não vou falar mais, pois, como já disse, essa não é a minha praia. Não é meu propósito desbancar Euclides ou Descartes, muito menos Newton. Chega de matemática.

Na verdade, o que eu quero falar é sobre primos, genéticos, de carne e osso, de sentimentos (ainda que alguns por aí não os tenham).

Os meus eu considero. Mesmo que a distância geográfica ou cronológica tenha nos afastado, mantivemos, creio eu, os laços de família. Os mais velhos me aconselharam e os mais novos eu aconselhei. Hoje, não tem mais distinção. Somos todos adultos. Podemos inserir nova página, na figura dos primos-netos – que também são primos.

Infelizmente, três já foram dar sua contribuição em outros espaços.

Dentre todos os meus primos, paternos ou maternos, um, talvez por força de circunstâncias (já que sempre passou o fim de ano e o início do outro conosco), ficou mais arraigado e eu o chamei de “meu oitavo irmão”. Hoje ele mora lá na “terrinha”, longe da sua Niterói. É o Márcio. Ele, mamãe Neuza e o meu irmão André Xoxô estão curtindo a “lua cheia” de 03.09 lá no alto do São Sebastião dos Pelados (o povo de lá não gosta que se cite dessa forma – besteira, não?!).

Bom! Mas o destaque de momento é o meu reaparecido primo Gilson que está lá em São José dos Quatro Marcos, no Mato Grosso. Ele saiu de Miracema antes de mim. Hoje, vendo as fotos postadas no seu recente e interessante blog, minimizo os meus pesares pelas minhas incursões nos sertões mineiros e baianos.

Lá, com certeza, foi muito pior. Parabéns a você, meu primo Gilson, que soube vencer, ao lado do saudoso Guilherme Cardoso, as adversidades do desconhecido e do desprotegido.

Em Miracema, jogou futebol, basquete. Estilizou o uniforme da Associação Atlética Miracema. A sua inteligência foi fundamental para a criação do festival musical da cidade, que se tornou ícone no país (jurados da “Grande Chance-Flávio Cavalcanti eram comuns na bancada). A “terrinha” o perdeu para que ele pudesse estender a sua proficuidade a regiões mais carentes. Principalmente, na área da saúde (bioquímico).

Estou com você.

Do primo.

Bebeto Alvim.

PS: Quando os outros primos aparecerem, falarei deles também. Com certeza!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

TUILE (BISCOITO DE COCO)








Se eu escrevi certo, os leitores poderão apreciar uma boa iguaria (Argh! Doce?!). Como dizia Roberto Carlos: Porque tudo que é bom, é imoral, ilegal ou engorda."

Aventure-se quem quiser.

Vou comer meu "bolo Amélia" antes de dormir.

A propósito: "tuile" é telha em francês. Correlacionem.


INGREDIENTES

Açúcar de confeiteiro – impalpável ............... 100g

Coco ralado seco ............................................ 100 g

Leite ............................................................... 80 ml

Manteiga ........................................................ 1 c sopa

PREPARO

1- Derreter a manteiga

2- Misturar todos os ingredientes

3- Forrar um tabuleiro com papel-manteiga

4- Molhar a mão

5- Amassar um bocado até que se assemelhe a uma “bolacha de chope”

6- Levar ao forno a 150° até dourar

BOM APETITE!

A BELEZA DA MATEMÁTICA

Não é minha praia, não, heim! Estou fora de qualquer comentário ou explicação. Sempre fui refratário aos números, assim como Carlos Heitor Cony (em C'EST LA GUERRE-80 Crônicas Exemplares): "Minhas relações com as Matemáticas nunca foram boas -- e exagero ao falar em Matemáticas, no plural e na maiúscula."
Pra mim, é apenas um jogo de números dispostos em desenhos. Não consigo ver além desse horizonte. Tenho ojeriza à matemática. Só faço outra faculdade que não tenha ela como disciplina obrigatória.
Mas, vamos lá, talvez alguns (ou muitos) apreciem.

Vejam a simetria.

!!!

1 x 8 + 1 = 9
12 x 8 + 2 = 98
123 x 8 + 3 = 987
1234 x 8 + 4 = 9876
12345 x 8 + 5 = 987 65
123456 x 8 + 6 = 987654
1234567 x 8 + 7 = 9876543
12345678 x 8 + 8 = 98765432
123456789 x 8 + 9 = 987654321


1 x 9 + 2 = 11
12 x 9 + 3 = 111
123 x 9 + 4 = 1111
1234 x 9 + 5 = 11111
12345 x 9 + 6 = 111111
123456 x 9 + 7 = 1111111
1234567 x 9 + 8 = 11111111
12345678 x 9 + 9 = 111111111
123456789 x 9 +10= 1111111111


9 x 9 + 7 = 88
98 x 9 + 6 = 888
987 x 9 + 5 = 8888
9876 x 9 + 4 = 88888
98765 x 9 + 3 = 888888
987654 x 9 + 2 = 8888888
9876543 x 9 + 1 = 88888888
98765432 x 9 + 0 = 888888888

1 x 1 = 1
11 x 11 = 121
111 x 111 = 12321
1111 x 1111 = 1234321
11111 x 11111 = 123454321
111111 x 111111 = 12345654321
1111111 x 1111111 = 1234567654321
11111111 x 11111111 = 123456787654321
111111111 x 111111111 = 12345678987654321


UM POUCO DE BOA MÚSICA (LETRA)

Nunca me atrevi a interpretar um poeta e sempre discordei de meus professores que teimavam em me impor tal heresia. Sim, além de impossível, é deselegante alguém se aproveitar da ausência do gênio e "determinar" que o que ele quis dizer é o que se "interpreta". Drummond já concedeu entrevista explicando que "a pedra no caminho" era somente uma pedra. Também, já na faculdade (agora recente), nunca entendi o que "interpretar" Drummond me ajudaria a plantar batatas, bananas e melancias. Mais apropriado seria "analisar" textos técnicos.

Bom, de qualquer maneira, tem momento que a gente "viaja". É o que ocorre na bela letra abaixo. Já ouvi a música em rádio, televisão, toca-discos, toca-fitas e outros similares. De olhos fechados, de pé ou deitado, até de cabeça para baixo. Já li o texto à moda árabe e tentei ver se existia algum código.

"Só uma palavra me devora // Aquela que meu coração não diz"

Qual seria a palavra?

Nunca soube e já desisti. A música é tão bela e intrigante que vai nos fazer ouvi-la até o fim dos tempos.


Jura Secreta
Sueli Costa & Abel Silva
Só uma coisa me entristece
O beijo de amor que não roubei
A jura secreta que não fiz
A briga de amor que eu não causei

Nada do que posso me alucina
Tanto quanto o que não fiz
Nada do que eu quero me suprime
Do que por não saber ainda não quis

Só uma palavra me devora
Aquela que meu coração não diz
Só o que me cega é o que me faz infeliz
É o brilho do olhar que eu não sofri


MIRACEMA E SUA GENTE

Ata da sessão extraordinária realizada em 25 de fevereiro de 1953 na sede social da Confederação Brasileira das Escolas de Samba. Presentes as seguintes pessoas:... Joaquim Casemiro, presidente da C.B.E.S.... O Sr. Casemiro, iniciando seu discurso, disse que foi com o maior prazer que recebeu o oficio dirigido pelo companheiro Alcides para esta reunião, cuja finalidade era o seu maior desejo e visto que já no ano passado fizeram esta tentativa e nada conseguiram. Depois que recebeu em suas mãos o convite de seu companheiro, reuniu imediatamente sua massa, deram rápida deliberação e aqui voltou e voltaria quantas vezes fosse preciso para realizar esta fusão e trazer oficialmente todo o apoio da E. S. Unidos do Salgueiro.

Joaquim Casemiro
2/11/1908 - 28/8/1964

Nascido no dia 2 de novembro de 1908, na cidade de Miracema, interior do estado do Rio de Janeiro, Joaquim Casemiro chegou ao Morro do Salgueiro em 1932. Comunicativo, sorridente, logo recebeu o apelido que viraria um verdadeiro nome de toda sua família: Calça Larga. O apelido veio de seus quase dois metros de altura, de seus 130 quilos, e da calça que usava, com a boca que cobria os sapatos.

Figura dominante, não apenas pelo físico, mas também pelo conhecimento político e por sua liderança, Calça Larga logo se tornou uma das personalidades mais representativas da comunidade que começava a povoar o Morro do Salgueiro, onde chegou a ser presidente da Associação Pró-Melhoramentos. Amigo de infância do Governador Carlos Lacerda, Calça Larga freqüentava o Palácio da Guanabara para conseguir algumas melhorias fundamentais para a vida de sua gente, entre elas a canalização da água.

Festeiro por natureza, Calça Larga estava sempre à frente nas homenagens ao padroeiro São Sebastião e na organização do piquenique no dia 15 de novembro, quando, tradicionalmente, os moradores do Salgueiro iam passear na Ilha de Paquetá. Ele mobilizava o pessoal do Morro, divulgando o evento e vendendo os convites para o passeio.

Mas seu dom se manifestava mesmo nas escolas de samba. Ali era seu terreno, seu domínio. Na Unidos, depois nos Acadêmicos do Salgueiro, ensinava e organizava a evolução das pastoras, arrumava as alas, organizava a escola e ainda batia um pandeiro para incentivar a bateria.


Na quadra ele improvisava, de vez em quando, uma roda de samba, um pioneirismo que muita gente lhe atribui. Era só ter cerveja encalhada que Calça Larga convidava alguns ritmistas e promovia um concurso de passistas. Estava armado o pagode. Enquanto as passistas sambavam e as torcidas comemoravam, Calça Larga vendia o encalhe de cerveja.

Calça Larga sempre foi incentivador da fusão das três escolas do Morro do Salgueiro - a sua Unidos do Salgueiro, Depois eu Digo e Azul e Branco -, mas quando a união aconteceu, após o carnaval de 1953, ele não aderiu, pois desejava ver a nova escola com as cores - azul e rosa - e o nome da sua escola.


Ficou à frente da Unidos por pouco mais de um ano, quando foi participar do processo de fundação de outra escola de samba, a União de Jacarepaguá. Por sua habilidade política, bastante útil para a criação da escola, foi eleito o primeiro presidente da nova escola.


Mas sua vida não seria completa se não retornasse ao Morro do Salgueiro, seu verdadeiro lugar. E assim foi. Chegou aos Acadêmicos para tornar-se uma das maiores figuras da história da escola.


O carnaval de 1963 foi um capítulo especial na história de Calça Larga, quando foi um indiscutível líder no desfile que deu a incontestável vitória ao Salgueiro. Mas tanto empenho e esforço lhe valeram sérios problemas de saúde. Após o anúncio da vitória, Calça Larga foi internado no Hospital dos Servidores. Apesar de as doenças não terem lhe diminuído o ânimo, ele achava que era hora de parar. "Já sou campeão, quero me afastar", disse.

Passado o susto, Calça voltou para casa, mas alguns meses depois, contrariando sua própria decisão, voltou ao Salgueiro para reassumir o posto de diretor-geral e comandar a escola novamente.

Os preparativos para o desfile de 1965 já haviam começado. No dia 28 de agosto de 1964, uma sexta-feira, o ensaio do Salgueiro acontecia como sempre. As pastoras evoluíam com graça sob o comando de Calça Larga, de boné branco, as calças boca de sino e um apito, com o qual acentuava as ordens que dava. De repente, ele deu um giro em torno de si e caiu. A bateria parou e todos correram para o centro da quadra (que levaria seu nome) para tentar levantar os 130 quilos de Calça Larga. Antes de ser levado para o hospital, o comandante ainda balbuciou uma ordem: "Não parem o ensaio por minha causa... O samba tem que continuar!".

Poucas horas depois falecia Joaquim Casemiro Calça Larga. A notícia emocionou o mundo do samba e toda a cidade. Todos tinham consciência da enorme perda e da lenda que naquele dia nascia.


Fonte: www.salgueiro.com.br (site oficial do G. R. E. S. Acadêmicos do Salgueiro)


Sem maiores informações, no momento.

Mas que ele fez bonito, fez!