terça-feira, 8 de setembro de 2009

NUVENS ENTRE NUVENS

Por quem as nuvens dobram?


De: Bebeto Alvim



-- Nimbo, por que ejetas tanta energia em ti? Pra que tudo isso?

-- Cúmulo, eu preciso do Poder.

-- Poder sobre quem?

-- Ora, sobre os que estão lá embaixo. Apoiada pelos meus aliados - os ululantes ventos, os poderosos e aterradores raios e o ribombar dos trovões - mostrar-lhes-ei o meu Poder.

-- E por que achas que deves fazer tal demonstração de força?

-- Porque eu preciso instigar o meu íntimo, (o meu veneno, sem ele eu não vivo!). De mais a mais, eles são frágeis: física e mentalmente! Não merecem consideração.

-- Se assim o são, deixe-os em Paz.

-- Vá dar a tua voltinha, Cúmulo.

-- Até logo, prima! Qualquer dia, eu volto.

E a Cúmulo se foi, e em Paz! A leve brisa a levou. Em céu azul, transportou-se tal qual algodão no vento. Branquinha e bem meiga. Por entre “brasis!” e mundo afora.

Já a sua desnaturada e cinzenta parenta aprontou: fez descer seus insensatos filhos que, voluptuosamente, em destruidor desejo, na forma de tempestade, desbancaram encostas, transbordaram rios, inundaram planícies. Ainda, invadiram residências de ricos e pobres, mataram animais e abortaram proveitosas colheitas; por isso, espalharam a fome, a miséria e o infortúnio. Permitiram que os rapaces disso se aproveitassem.

Porém esgotou-se.

Algum tempo após, Cúmulo, ainda branquinha e ainda com a doçura de um algodão-doce, encontra a prima, exânime, a soluçar:

-- Prima, ajuda-me, estou sem forças!

E a bondosa nuvenzinha:

-- O que aconteceu?

-- Gastei minhas energias.

-- Em quê?

–- Na minha demonstração de força.

–- Oh, prima! Que pena! Posso te passar algumas reservas minhas.

-- As tuas não satisfarão as minhas necessidades. Elas são muito magnânimas.

E nos “braços” da prima, balbucia em seu estertor:

-- Estou morrendo!

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