quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A VIAGEM FINAL (?) DE UM POETA (3)


 Esta á terceira e última (por enquanto) homenagem ao magnífico poeta, que nem tão meu amigo foi, já que divergíamos em locais de frequência. Nada obstante, eu o admirava.
      O que vem a seguir é uma historinha singular:
      Nos idos de 1978, o Banco do Brasil, através do seu Departamento Cultural (bons tempos de pessoas inteligentes e intelectuais buscando a cultura da empresa), cria um folhetim, intitulado BIP-Boletim de Informação ao Pessoal, com o objetivo de trazer informações inúmeras ao seu quadro funcional. Reservava a última das oito páginas a temas livres, escritos por depoentes de histórias inusitadas, curiosas, hilárias e etc., sejam vividas ou vivenciadas por eles, ainda que como ouvintes. Páginas antológicas.
      Lamentável que os "atuais" não saibam sentir tais emoções. Pena deles! Voltemos ao que interessa. Já no seu segundo número, eis que aparece um  "causo" relatado pelo poeta Antonio Roberto. Recordem o episódio aqueles que já o conheciam; os mais novos podem ver que, algum tempo atrás, se fazia "BANCO DO BRASIL" com pessoas e não com números. De qualquer forma, é um deleite.    


DOS RECURSOS DIVERSOS NA ARTE DE COBRAR
(Narrativa enviada pela funcionário Antonio Roberto Fernandes - Campos (RJ) para a seção "História não escrita do Banco do Brasil"

      Por ocasião da reapresentação de um título ao Sr. Ary de Oliveira, residente em Cambuci (RJ), onde não há agência do Banco, o Gerente me sugeriu que fizesse o aviso de cobrança em versos, uma vez que o sacado é conceituado poeta:


Sr. Ary de Oliveira,
somente desta maneira
se pode reapresentar
um título já vencido
a um poeta tão querido
e exímio no versejar.

Da Myrta nos foi chegado
um Título Descontado
que não foi pra Cambuci,
pois cobrança descontada
é coisa de nossa alçada,
por isso ficou aqui.

Este dever nos maltrata
mas venceu a duplicata
no dia sete do seis.
O seu valor não comove:
centavos, setenta e nove;
cruzeiros, dois, oito, três.

A sua atenção pedimos
apenas porque cumprimos
nossas duras instruções.
Dinheiro faz sombra fria
às "Veredas"* da Poesia
mas, que fazer? Saudações!...

(*) O Sr. Ary de Oliveira tem um livro de poesias intitulado "Veredas de Sol".

Resposta do Sr. Ary de Oliveira, uma semana depois

Prezado Antonio Roberto:
Quando o longe se faz perto 
pelas mãos de um nobre amigo,
também me sinto "vencido"
e de atender ao pedido
eximir-me não consigo.

Ocorre um fato, porém:
o senhor conhece bem
a lei que regula o assunto:
um saque será cobrado
só na praça do sacado
(tal entende o meu bestunto).

Não se discute a razão
de nossa legislação,
portanto tal documento
deve ser apresentado,
dentro do prazo, ao sacado,
para aceite e pagamento.

Se tal fato não se deu
e o prazo já prescreveu,
não me culpem da tardança;
a lei bem soube dispor:
cabe sempre ao sacador
qualquer ônus da cobrança.

Só soube recentemente
que o seu digno Gerente
é amigo de longa data;
em face a tal amizade,
removo a dificuldade
liquidando a duplicata.

Deve convir à Gerência
(e prima pela evidência):
se não causei a demora
não me fiz impontual.
Pagarei o capital
mas não os juros de mora!...

(E pagou).
  

Um comentário:

  1. Deixo transcrito, para enriquecer o seu blog, um poema talvez tão bonito quanto o do Prof. Osmar Barbosa,de uma temática também "contraditória"(me faltou, no momento um adjetivo melhor).O autor é filho de uma tradicional fammília de São José de Ubá, meu pai, Ésio Ramos Vieira.


    Quem é cativo não ama,
    Diz um provérbio popular
    Mas eu... eu sou cativo de uma dama
    A quem não canso de amar.

    Saudações,

    José Augusto Ramos Vieira

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